A RELIGIOSIDADE QUE MATA (3ª Parte)
QUANDO OS MANDAMENTOS SÃO PARA OS OUTROS
Uma das acusações mais sérias contra os
religiosos é que falam uma coisa e fazem outra. Esta atitude sempre foi comum
se você estudar a história religiosa. Na época de Jesus, também havia, e muito,
deste comportamento. No texto que estamos estudando, Jesus está falando contra
os fariseus, que era um grupo religioso e político. Junto com este grupo, havia
o grupo dos “mestres da Lei” que não só copiavam o texto do Antigo Testamento,
mas também davam sua interpretação para os fariseus e todo o povo (hoje, estas
pessoas são conhecidas como juristas e, em sentido mais amplo, advogados).
Estes dois grupos, fariseus e mestres da lei, estavam sempre juntos. Era como o
Legislativo e o Executivo. Um interpretava as leis e o outro aplicava. Em Lucas 11.45-46, Jesus começa a falar a
respeito dos mestres da Lei.
Naquela
refeição, estavam juntos fariseus e mestres da lei com Jesus. Jesus havia feito
severas críticas aos fariseus nos v. 39-44 e os mestres da lei ali presentes
sentiram-se incomodados. Um deles disse a Jesus: “Mestre, quando dizes estas
coisas, insultas também a nós” (v. 45). As palavras de crítica de Jesus, ao
invés de serem recebidas para análise, foram recebidas como insultos. Pessoas
muito religiosas não gostam de ouvir críticas. Quando as ouvem, ao invés de
pensar no assunto, partem logo para desqualificar quem falou.
Mas Jesus era
Jesus. Ao invés de calar-se ou pedir desculpas, voltou-se para o mestre da lei
e disse: “quanto a vocês, mestres da lei, ai de vocês também, porque
sobrecarregam os homens com fardos que dificilmente eles podem carregar, e
vocês mesmos, nem ainda com um dos seus dedos, tocam nestes fardos” (v. 46).
Muitos líderes religiosos, em nome de “Deus”, colocam cargas pesadas,
opressivas, difíceis de cumprir sobre as costas de seus liderados. Algumas
destas cargas pesadas são interpretações legalistas do que você deve fazer para
ser salvo. Outros ensinam que, para continuar na salvação, você tem que fazer
outro tanto de coisas difíceis, inclusive tirar tudo que lhe dá prazer de sua
vida. A acusação de Jesus é que eles, os mestres da lei ou os líderes
religiosos, não fazem absolutamente nada do que mandam os outros fazer. Vou dar
um exemplo daquela época baseada no livro Lucas do estudioso Leon Morris (p.
194): no dia de sábado, segundo ensinavam, um homem não poderia carregar um
fardo nas mãos, no colo e nem nos ombros, mas poderia carregá-lo “nas costas da
mão, ou no pé, ou na sua boca, ou no seu cotovelo, ou na sua orelha, ou nos
seus cabelos, ou na sua carteira com a boca para baixo, ou entre sua carteira e
sua camisa, ou na dobra de sua camisa, ou no seu sapato ou na sua sandália”.
Multiplique isto por 600 mandamentos da Lei de Moisés, e o povo comum tem um
fardo impossível de aguentar, só para saber o que pode ou não fazer. Mas o
mestre da lei, que conhecia isto, sabe dos inúmeros meios de escape que o
capacitava a fazer quase tudo quanto queria e continuar “obedecendo” a lei
(hoje, o considerado “bom” advogado é aquele que sabe usar as “brechas” da lei
em favor de seu cliente).
Vou dar exemplos
atuais de líderes religiosos que colocam fardos pesados nas costas dos outros,
mas eles não levantam um só dedo para carregar estes mesmos fardos. 1) Diz um
líder: “dá tudo que você tem no seu bolso hoje como prova de fé em Deus”, mas
ele próprio não dá absolutamente nada, pelo contrário, só enriquece. 2) Outro
diz: “depois da oração que eu fiz, creia que você já está curado e jogue, pela
fé, todos os seus remédios fora”, mas quando ele adoece, procura o melhor
especialista da área para se curar. 3) Outro diz: “seja casto na sua vida
sexual”, mas pratica a pedofilia escondido. 4) Outro diz: “seja fiel ao seu
cônjuge”, mas há anos ele trai a esposa com mulheres da sua própria comunidade.
5) Outro diz: “eu condeno estes corruptos da política”, mas ele tente subornar
um policial para não pagar uma multa, ou não paga seus impostos usando
documentos falsos, ou passa cheque sem fundo. 6) Outro prega: “amai-vos uns aos
outros e amai os vossos inimigos”, mas ele odeia outras pessoas que não
pertencem a seu grupo religioso. Poderia dar mais de 100 exemplos, mas estes
bastam.
Agora para mim e
para você: não escape pela tangente! Não invente desculpas para fazer o que
você manda que os outros não façam. Não viva impondo regras aos outros. Você
pode ensinar os outros sobre como viver para agradar a Deus, desde que você
mesmo seja o primeiro discípulo do que fala. Seja coerente. Agora, não podemos
ser falsos. É saudável alguém dizer para outro: “fulano, você deve fazer tal
coisa porque a Bíblia ensina assim, mas eu mesmo tenho dificuldade em viver
desta forma; no entanto, estou lutando para aprender e chegar lá”. Isto também
é coerência!
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