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Lucas 11.45-46 - QUANDO OS MANDAMENTOS SÃO PARA OS OUTROS

A RELIGIOSIDADE QUE MATA (3ª Parte)
QUANDO OS MANDAMENTOS SÃO PARA OS OUTROS

 Uma das acusações mais sérias contra os religiosos é que falam uma coisa e fazem outra. Esta atitude sempre foi comum se você estudar a história religiosa. Na época de Jesus, também havia, e muito, deste comportamento. No texto que estamos estudando, Jesus está falando contra os fariseus, que era um grupo religioso e político. Junto com este grupo, havia o grupo dos “mestres da Lei” que não só copiavam o texto do Antigo Testamento, mas também davam sua interpretação para os fariseus e todo o povo (hoje, estas pessoas são conhecidas como juristas e, em sentido mais amplo, advogados). Estes dois grupos, fariseus e mestres da lei, estavam sempre juntos. Era como o Legislativo e o Executivo. Um interpretava as leis e o outro aplicava. Em Lucas 11.45-46, Jesus começa a falar a respeito dos mestres da Lei.
Naquela refeição, estavam juntos fariseus e mestres da lei com Jesus. Jesus havia feito severas críticas aos fariseus nos v. 39-44 e os mestres da lei ali presentes sentiram-se incomodados. Um deles disse a Jesus: “Mestre, quando dizes estas coisas, insultas também a nós” (v. 45). As palavras de crítica de Jesus, ao invés de serem recebidas para análise, foram recebidas como insultos. Pessoas muito religiosas não gostam de ouvir críticas. Quando as ouvem, ao invés de pensar no assunto, partem logo para desqualificar quem falou.
Mas Jesus era Jesus. Ao invés de calar-se ou pedir desculpas, voltou-se para o mestre da lei e disse: “quanto a vocês, mestres da lei, ai de vocês também, porque sobrecarregam os homens com fardos que dificilmente eles podem carregar, e vocês mesmos, nem ainda com um dos seus dedos, tocam nestes fardos” (v. 46). Muitos líderes religiosos, em nome de “Deus”, colocam cargas pesadas, opressivas, difíceis de cumprir sobre as costas de seus liderados. Algumas destas cargas pesadas são interpretações legalistas do que você deve fazer para ser salvo. Outros ensinam que, para continuar na salvação, você tem que fazer outro tanto de coisas difíceis, inclusive tirar tudo que lhe dá prazer de sua vida. A acusação de Jesus é que eles, os mestres da lei ou os líderes religiosos, não fazem absolutamente nada do que mandam os outros fazer. Vou dar um exemplo daquela época baseada no livro Lucas do estudioso Leon Morris (p. 194): no dia de sábado, segundo ensinavam, um homem não poderia carregar um fardo nas mãos, no colo e nem nos ombros, mas poderia carregá-lo “nas costas da mão, ou no pé, ou na sua boca, ou no seu cotovelo, ou na sua orelha, ou nos seus cabelos, ou na sua carteira com a boca para baixo, ou entre sua carteira e sua camisa, ou na dobra de sua camisa, ou no seu sapato ou na sua sandália”. Multiplique isto por 600 mandamentos da Lei de Moisés, e o povo comum tem um fardo impossível de aguentar, só para saber o que pode ou não fazer. Mas o mestre da lei, que conhecia isto, sabe dos inúmeros meios de escape que o capacitava a fazer quase tudo quanto queria e continuar “obedecendo” a lei (hoje, o considerado “bom” advogado é aquele que sabe usar as “brechas” da lei em favor de seu cliente).
Vou dar exemplos atuais de líderes religiosos que colocam fardos pesados nas costas dos outros, mas eles não levantam um só dedo para carregar estes mesmos fardos. 1) Diz um líder: “dá tudo que você tem no seu bolso hoje como prova de fé em Deus”, mas ele próprio não dá absolutamente nada, pelo contrário, só enriquece. 2) Outro diz: “depois da oração que eu fiz, creia que você já está curado e jogue, pela fé, todos os seus remédios fora”, mas quando ele adoece, procura o melhor especialista da área para se curar. 3) Outro diz: “seja casto na sua vida sexual”, mas pratica a pedofilia escondido. 4) Outro diz: “seja fiel ao seu cônjuge”, mas há anos ele trai a esposa com mulheres da sua própria comunidade. 5) Outro diz: “eu condeno estes corruptos da política”, mas ele tente subornar um policial para não pagar uma multa, ou não paga seus impostos usando documentos falsos, ou passa cheque sem fundo. 6) Outro prega: “amai-vos uns aos outros e amai os vossos inimigos”, mas ele odeia outras pessoas que não pertencem a seu grupo religioso. Poderia dar mais de 100 exemplos, mas estes bastam.

Agora para mim e para você: não escape pela tangente! Não invente desculpas para fazer o que você manda que os outros não façam. Não viva impondo regras aos outros. Você pode ensinar os outros sobre como viver para agradar a Deus, desde que você mesmo seja o primeiro discípulo do que fala. Seja coerente. Agora, não podemos ser falsos. É saudável alguém dizer para outro: “fulano, você deve fazer tal coisa porque a Bíblia ensina assim, mas eu mesmo tenho dificuldade em viver desta forma; no entanto, estou lutando para aprender e chegar lá”. Isto também é coerência!

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