O SÁBADO NÃO É O
DIA SAGRADO (E NEM O DOMINGO)
Há hoje uma
discussão acerca da guarda do sábado. Alguns grupos religiosos dizem que
devemos obedecer literalmente os dez mandamentos e guardar o sábado como dia
sagrado. Outros dizem que o dia sagrado é o domingo pois Jesus ressuscitou
neste dia e, desde o Novo Testamento, a igreja celebra seus cultos públicos
neste dia da semana. O que Jesus Cristo nos diz sobre este assunto? Parte do
seu ensino está no texto de Lucas 6.1-11. Para nossa facilidade de estudo,
vamos dividir o texto em duas partes. Hoje veremos Lucas 6.1-5. Preciso lembrar o leitor que o texto anterior (Lucas
5.36-39) tem um princípio que controla este texto acerca do sábado: o vinho
novo (evangelho que Jesus nos trouxe) não pode ser colocado em vasilhas velhas
(estruturas religiosas humanas) e sim em vasilhas novas (pessoas transformadas
pelo próprio evangelho).
O judaísmo
(religião dos judeus baseada na Lei de Moisés) da época de Jesus tinha dois
pilares: a circuncisão e a guarda do sábado. Acerca do sábado, havia uma longa
lista de tradições acerca do que era proibido fazer neste dia a fim de não
quebrar o quarto mandamento. Era um dia de sábado e Jesus e seus discípulos
atravessavam uma plantação (v. 1). Os discípulos dele, com fome, pegavam
espigas e, debulhando com as mãos, comiam. Pegar espigas para comer numa
plantação não era ilegal. A Lei de Moisés permitia isto (Deuteronômio 23.25).
Mas, conforme a tradição do judaísmo, eles estavam fazendo dois tipos de
trabalho no sábado: colher e debulhar. Aí estava o problema. Sabendo do que
eles fizeram, alguns fariseus ficaram indignados e perguntaram: “por que vocês
estão fazendo o que não é permitido no sábado?” (v. 2).
Jesus não deixou
a acusação sem resposta (v. 3-4). O interessante é que Jesus não vai à Lei de
Moisés para responder mas a um episódio ocorrido com o maior herói nacional de
Israel: o rei Davi. O episódio mencionado está narrado em 1º Samuel 21.1-6.
Vamos à história: na época, o rei Saul estava tentando matar seu ex-general
Davi por considerá-lo uma ameaça ao trono. Ele estava numa caçada feroz e Davi
fugia com um grupo de homens que o acompanhavam. Num destes momentos de fuga,
com muita fome, ele e seus homens chegaram à cidade de Nobe, onde estava um
grupo de sacerdotes que servia ao Senhor. Davi pergunta ao sacerdote Aimeleque
se há pão para ele e seus homens pois estão desfalecidos. O sacerdote diz que
não há pão a não ser os pães da proposição. Segundo a Lei de Moisés, estes pães
da proposição eram consagrados ao Senhor, deveriam ficar no altar por um tempo
e, depois, apenas os sacerdotes poderiam comê-los (esta prescrição encontra-se
em Levítico 24.5-9). Então Davi recebe os pães da preposição e, desobedecendo
claramente uma ordem divina da Lei de Moisés, come os pães com seus homens.
Davi nunca foi censurado por isto, nem por Deus, nem pelos homens e é este o
exemplo que Jesus usa para defender seus discípulos e dizer que eles estavam
certos em colher e debulhar espigas no sábado.
Jesus nos ensina
com este exemplo do rei Davi que a necessidade humana não se sujeita ao
legalismo estéril. Vou dar um exemplo: imagine que um amigo seu está tendo um
ataque cardíaco e você consegue levá-lo até a emergência de um hospital. Ao colocá-lo
numa maca para o atendimento, a atendente barra a entrada dizendo que é norma
do hospital que todo paciente tenha uma ficha preenchida antes de entrar.
Segundo ela, você tem de preencher a ficha primeiro, para depois seu amigo
receber atendimento. O que você acharia disto? Davi desobedeceu a uma lei
divina por risco de morte. O sábado foi feito por causa do ser humano. Para o
seu descanso e bem-estar. O ser humano é mais importante que o sábado.
No v. 5, Jesus
conclui com uma declaração fantástica: “o Filho do homem é Senhor do sábado”. O
Filho do homem é Jesus e ele é o dono do sábado. Ele, Jesus, está acima de uma
ordenança que ele próprio deu, pois ele é Deus. É Jesus, e somente ele, que
interpreta corretamente as leis do Antigo Testamento. O vinho novo do evangelho
é que, com Jesus, não existe mais dia sagrado que deva ser guardado: nem o
sábado, nem o domingo ou qualquer outro dia. Preste atenção, leitor: o que deve
ser guardado, como muito sagrado, não é um dia da semana mas uma pessoa: Jesus
Cristo! Não guarde dias, siga a Jesus todos os dias da semana e da sua vida.
Ouça o apóstolo Paulo: “tenham cuidado para que ninguém os escravize a
filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos
princípios elementares deste mundo, e não em Cristo. Pois em Cristo habita
corporalmente toda a plenitude da divindade e, por estarem nele, que é o Cabeça
de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude” (Colossenses 2.8-10).
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