A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS
1ª PARTE: O CENTRO DA HISTÓRIA HUMANA
Alguns
acontecimentos tornam-se símbolos de mudança na história. O movimento “Diretas
Já” em 1984 foi o marco da mudança da ditadura para a democracia no Brasil. A
queda do muro de Berlim em 1989 foi o marco do desmoronamento do comunismo no
mundo. A queda das Torres Gêmeas em 2001 foi o início de uma nova ordem mundial
na qual o terrorismo passou a ser o perigo maior. Alguns acontecimentos
tornam-se o centro de uma mudança radical na história humana. Em Lucas 9.28-36,
há um evento conhecido como “a transfiguração de Jesus”, no qual Jesus dá uma
demonstração de sua glória. Neste acontecimento, fica claro qual é o evento
histórico que Deus considera como sendo o centro da história humana. É isto que
vamos ver na primeira parte do texto em Lucas
9.27-31.
Lucas 9.27 é um
dos versículos mais difíceis de interpretar dentre as palavras de Jesus. Os
estudiosos do Novo Testamento classificam umas dez interpretações diferentes.
Há uma regra de interpretação (hermenêutica) que diz que um versículo deve ser
interpretado dentro do seu contexto. Qual o contexto do v. 27? Jesus estava
fazendo um discurso acerca do alto preço pessoal em ser discípulo dele (Lucas
9.23-26). Há uma negação de si mesmo, há uma cruz de morte a ser carregada todo
dia, há um perder a vida por causa dele. Ser discípulo de Jesus é uma tarefa
difícil. Aí vem o v. 27: “garanto-lhes que alguns que aqui se acham de modo
nenhum experimentarão a morte antes de verem o Reino de Deus”. O dito é
simples: alguns, não todos, dentre uma grande multidão de discípulos não
morreriam sem antes ver o Reino de Deus. Como já expliquei antes, o Reino de Deus
tem duas fases: a primeira, humilde, se deu na vinda e ministério de Jesus.
Neste sentido, todos ali já tinham visto o Reino. A segunda fase, poderosa,
acontecerá na segunda vinda de Cristo ao mundo. É a esta fase que Jesus se
referia. No entanto, todos aqueles discípulos morreram e Cristo ainda não
voltou. Como, então, alguns deles viram antes de morrer? Esta profecia de Jesus
se cumpriu no contexto posterior chamado de “a transfiguração de Jesus”.
Veja bem: oito
dias depois, Jesus escolhe três discípulos (Pedro, Tiago e João) e sobe com
eles, à noite, em um monte para orar (v. 28). No sofrimento e na exaltação,
Jesus sempre procura o Pai para ter comunhão. É do Pai que vem a noção exata
para que ele saiba quem é e o que deve fazer. O v. 29 vai dizer que uma
portentosa manifestação de poder acontece em Jesus, enquanto orava. Leitor,
nunca subestime o valor da oração, desta busca carinhosa pelo Pai em sua vida.
Em que consiste esta manifestação de poder em Jesus? A aparência de seu rosto
se transformou e resplandeceu e suas roupas passam a brilhar, branquíssimas,
cheias de resplendor. Jesus estava sendo glorificado (como ocorrerá na sua
segunda vinda).
Espantosamente,
apareceram dois homens que conversavam com ele: Moisés e Elias (v. 30). Moisés
havia formado a nação através da libertação poderosa do Egito e havia dado a
Lei para Israel. Elias é considerado o “pai” do profetismo de Israel do Antigo
Testamento. A presença de Moisés e Elias significa que todo o Antigo Testamento
(a lei e os profetas) presta reverência a Jesus como seu consumador. Eles veem
que tudo que disseram se cumpre neste homem chamado Jesus. Cristo não aparece
no vácuo, ele tem atrás de si toda a história do Antigo Testamento, que lhe
pertence.
O v. 31 diz:
“apareceram (Moisés e Elias) em glorioso esplendor, e falavam sobre a partida
(êxodo) de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém”. Qual o assunto da
conversa destes três homens em glorioso esplendor? A partida (no texto
original: êxodo), ou seja, a morte de Jesus dali a poucos meses em Jerusalém. A
morte de Jesus era o centro da conversa porque a morte de Jesus é o centro da
História humana. De Adão até a segunda vinda, o centro desta história que já
tem milênios é a cruz de Cristo. E mais: Jesus estava fulgurando diante dos discípulos
como antecipação de sua segunda vinda, mas a maior glória de Jesus repousa na
cruz onde ele morreu por nós. Quando contempla o céu, onde está o trono de
Deus, João diz “vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro
do trono ... ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele que
estava assentado no trono. Ao recebê-lo, os quatro seres viventes e os vinte e
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro ... e eles cantavam um cântico
novo: ‘tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste
morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e
nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão
sobre a terra’. Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares
e milhões de milhões ... e cantavam em alta voz: ‘digno é o Cordeiro que foi
morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor’”
(Apocalipse 5.6-12). Assim como o êxodo de Moisés significou a libertação de
escravos do poder egípcio, assim também a morte de Jesus traz-nos a liberdade.
Só há liberdade para quem incorpora a morte de Jesus como sendo sua morte e sua
vida.
A nossa
autonegação, nossa cruz diária, a nossa perda da vida por causa de Cristo,
enfim, nosso discipulado de Jesus é a nossa participação no supremo momento da
história: a morte expiatória de Jesus na cruz! A quem você segue? Ao Cordeiro
que, ao morrer, colocou-se no centro da História. Ao Cordeiro que, com sua
morte, lhe fez livre. Ao Cordeiro que vai levar a história a se ajoelhar
perante ele em glória. Digno é o Cordeiro.
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