Lucas 17.7-10 - SER DISCÍPULO É CUMPRIR SEU DEVER, SEM RECOMPENSAS

A VIDA NA IGREJA (4ª Parte)

SER DISCÍPULO É CUMPRIR SEU DEVER, SEM RECOMPENSAS

Muitos crentes acham que, se fizerem o que é certo ou a vontade de Deus, merecem recompensas da parte dele. Alguns até exigem de Deus que ele “cumpra suas promessas” e os recompensem após grandes sacrifícios pessoais que fizeram (geralmente associados a ofertas de alto valor). Jesus nos ensina em Lucas 17.7-10, que na vida da igreja, o discípulo dele não tem recompensa por executar seu dever, ou seja, o serviço cristão que realiza.

O texto de Lucas 17.7-10 está em contraposição ao de Lucas 12.35-38. No texto do capítulo 12, os discípulos esperam com prontidão a volta do Senhor. Eles estão acordados e prontos para quando ele voltar. Quando ele vier, disse Jesus ali, ele mesmo, o Senhor, os servirá e eles serão exaltados. Poderia parecer a alguns incautos discípulos que as posições se inverteram: eles seriam os senhores e Jesus seria o servo. Para corrigir o pensamento de tais pessoas, Jesus conta esta parábola que começa assim: “Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’” (v. 7). Usando um exemplo da sua época, na qual a escravidão era comum, temos um senhor que tem apenas um escravo (no texto original, a palavra “servo” na verdade significa “escravo”). Este escravo trabalhou no campo o dia inteiro, chegou à casa onde mora e o seu senhor começa a servir o jantar para ele? Não! Isto nunca acontecia, pois tal atitude seria impensável tanto para senhores quanto para escravos.

Agora Jesus coloca o costume da época no lugar certo: “Ao contrário, não dirá: Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado?” (v. 8,9). O homem age como senhor. O escravo chegou do trabalho que fez no campo, certamente cansado. O seu senhor exige que ele prepare o jantar, apronte-se e sirva-o à mesa. Depois que ele jantar, o escravo poderá comer e beber. No v. 9, Jesus pergunta se o senhor dará alguma graça, algum favor a um escravo como recompensa. A resposta óbvia é não! O escravo cumpriu o seu dever. A obrigação do escravo era sempre servir o seu senhor e nunca receberia recompensa alguma por fazer isto. É como se hoje um patrão que paga corretamente seu funcionário, dissesse para ele sentar-se à mesa enquanto ele, o patrão, iria fazer o trabalho pesado do funcionário. Ou se um patrão, após o empregado ter cumprido uma ordem, dissesse para ele: “vou lhe dar um presente porque você fez o que eu mandei”.

Jesus faz a aplicação aos seus discípulos desta parábola: “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (v. 10). Ao cumprir todas as ordens que Jesus deu, o escravo/discípulo olha para si e diz: “sou um escravo de Jesus e fiz tão somente a minha obrigação. Por ter obedecido, nada mereço de Jesus. Ele não é obrigado a me dar nada”. As palavras “servos inúteis” têm o sentido de servos que fazem sua obrigação. Não é uma palavra negativa, mas positiva de trabalhadores, embora se saiba que não merecem nada por ter feito seu dever. Nesta parábola, Jesus nos coloca no nosso devido lugar em relação a ele. Ele é o Senhor e nós apenas servos. Estamos aqui para servi-lo.

Observe alguns pensamentos atuais que ouço na igreja por parte de algumas pessoas: “se eu fizer um grande sacrifício, Deus tem de me abençoar”, “vou fazer tal coisa para eu conseguir aquela graça que estou precisando”, “eu sou filho de Deus, posso exigir suas bênçãos”, “eu tenho grande fé, tudo que eu pedir ele vai me dar” e “só serei abençoado, se Deus me fizer prosperar materialmente”. Todos estes pensamentos são contrários ao que Jesus disse neste texto. O escravo/discípulo de Jesus terá grande honra pessoal se obedecer todos os mandamentos dele. Ele não está atrás de bençaos, ele quer honrar o seu Senhor. Ele sabe que seu Senhor é bom!