A JUSTIFICAÇÃO DO PECADOR PELA EXPIAÇÃO DE DEUS
Como o homem
pode ser aceito por Deus? A resposta a esta pergunta é que motiva a existência
de tantas religiões. Será que somos aceitos porque fazemos boas coisas, procuramos
ter uma vida digna, participamos de atos religiosos, auxiliamos o próximo e,
com tudo isto, acumulamos méritos perante Deus? Ou apresentamo-nos diante dele
como pecadores da pior espécie, sem nada para oferecer e clamando por seu
perdão? Jesus Cristo responde esta questão com sua parábola do fariseu e o
cobrador de impostos em Lucas 18.9-14.
“Contou também esta parábola a alguns que confiavam em si
mesmos, achando-se justos, e desprezavam os outros” (v. 9). No momento
deste discurso, Jesus está falando aos fariseus e aos discípulos. A parábola é
uma manifestação de Jesus acerca de pessoas que têm plena certeza de que são
justas porque se comparam a outras, desprezando-as. A régua pela qual estas
pessoas se medem são o seu entendimento de que estão fazendo o que Deus quer, e
que os outros são sempre mais pecadores do que ele, em sua visão. “Dois homens subiram ao templo para orar: um era fariseu e
outro publicano (cobrador de impostos)” (v. 10). O que eles tinham em
comum? Eram homens, seres humanos e eles subiram ao templo de Jerusalém, na
hora do culto onde um cordeiro era sacrificado em prol dos pecados da nação,
para orar. Mas o que os diferenciava era brutal. Um deles era um fariseu:
seguidor escrupuloso da lei de Moisés, cônscio de sua superioridade moral sobre
todos os homens; o outro era um publicano, ou seja, um cobrador de impostos que
extorquia seu próprio povo (os judeus) para dar aos romanos (os invasores). Por
conseguinte, o publicano era considerado o mais imoral e nojento dos homens:
era ladrão, corrupto, traidor e imoral (hoje em dia, seria o equivalente a um
traficante, corrupto ou pedófilo).
“O fariseu, de pé, orava consigo mesmo: Ó Deus, graças te dou
porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros nem mesmo
como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto
ganho” (v. 11-12). Onde se diz que o fariseu orava “consigo mesmo”
deve-se entender “sozinho”, mas por quê? Era costume de um fariseu nunca
permitir que outra pessoa tocasse em suas vestes para que ele não se
contaminasse ritualmente. Na hora do culto, ele mantinha distância dos outros.
Ele orava em voz alta para que outros ouvissem e aprendessem com seu
comportamento. É o que este fariseu faz aqui. Ele começa sua oração dizendo que
cumpria a lei de Moisés e, por causa disto, era superior aos outros homens e,
em especial, daquele cobrador de impostos que estava lá atrás. Ele não era uma
pessoa velhaca, desonesta, corrupta e imoral (tudo isto, ele entendia que o
cobrador de impostos era). Aliás, ele é tão excelente que, além de obedecer à
lei, ele vai além do que a lei ordenava e dá dois exemplos disto. A lei de
Moisés mandava jejuar uma vez por ano; ele jejuava duas vezes na semana. A lei
mandava dar o dízimo de alguns tipos de colheitas e animais; ele dava o dízimo
de exatamente tudo. O fariseu se achava a fina essência da obediência a Deus.
Ele devia achar que Deus batia palmas de aprovação para ele. Se tirarmos a expressão
“ó Deus” de sua fala, aquilo não é oração, mas autoelogio o tempo todo. Estamos
diante de um tipo muito comum hoje em dia: a pessoa que chega diante de Deus e
se gaba de tanta coisa boa que ela faz ou é.
O outro
personagem é o cobrador de impostos: “Mas o publicano,
em pé e de longe, nem mesmo levantava os olhos ao céu, mas batia no peito,
dizendo: Ó Deus, tem misericórdia (faze expiação) de mim, o pecador” (v. 13). O cobrador também ficou
longe do grupo de adoradores, mas por um motivo bem diferente: ele achava que
não tinha condições morais de estar perto deles. Ele não levantou os olhos ao
céu para orar porque a culpa não permitia. Antes, ele batia no peito: naquela
época, na adoração pública, somente mulheres batiam no peito e isto era sinal
de profunda angústia e dor. Sendo homem, ele batia publicamente em seu peito,
demonstrando sua profunda angústia e culpa por seus pecados. O que o cobrador
orou? Ele pediu suplicantemente a Deus que ele mesmo (Deus) fizesse a expiação
(pagamento) de seus pecados, porque ele não tinha nada a oferecer em termos de
retidão moral. (Uma explicação aqui é muito importante: o texto bíblico diz que
ele pediu “tem misericórdia”. Esta não é uma boa tradução: o termo grego é “hilástheti” que significa literalmente “faze
expiação”, pois vem do substantivo “hilasmós”
“expiação” que era a oferta de animais que “pagava” os pecados do povo ou do
indivíduo diante de Deus). Tanto isto é verdade no texto que ele diz para Deus
que ele é “o pecador”, ou seja, o pior dos homens, aquele que não tinha jeito.
Se Deus não fizesse a expiação por ele, ele mesmo não conseguiria fazer de
jeito nenhum! Por isto ele suplicava: “Deus, faze a expiação para mim”.
Jesus conclui no
v. 14: “Digo-vos que este desceu justificado para casa,
e não o outro; pois todo o que se exaltar será humilhado; mas o que se humilhar
será exaltado”. Quando Jesus fala a expressão “digo a vós”, ele se
coloca no lugar de Deus, pois vai dar uma sentença que pertence exclusivamente
a Deus. E qual é a sentença? O cobrador de impostos foi justificado sem ter
feito nada. Veja que o verbo “justificado” está na voz passiva. Quais as
atitudes que o levaram a ser justificado? Teve consciência de sua
pecaminosidade terrível, arrependeu-se dela e creu que só Deus podia fazer a
expiação dos pecados em seu favor. Neste sentido, ele está de acordo com a
experiência do rei Davi no Salmo 51.1-3: “Ó Deus,
compadece-te de mim, segundo teu amor; apaga as minhas transgressões, por tuas
grandes misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me
do meu pecado. Pois reconheço minhas transgressões, e meu pecado está sempre
diante de mim”. O fariseu não foi justificado por Deus (embora fosse
pessoa moralmente melhor que o cobrador) porque confiou em sua própria capacidade
de fazer o bem e tentou se autojustificar. Na salvação, a regra é esta: quem se
rebaixa perante Deus, será exaltado por ele; quem se exalta perante Deus, será
rebaixado por ele.
O
apóstolo Paulo desenvolveu, de forma esplêndida, a doutrina da justificação
pela fé somente, sem o concurso das obras e esforços humanos. Paulo advoga que
a justificação do pecador só é possível porque Cristo expiou (pagou) os pecados
dos crentes na cruz. Veja Romanos 3.25: “A quem
Deus ofereceu (Jesus) como sacrifício propiciatório (expiatório), por meio da
fé, pelo seu sangue, para demonstração de sua justiça. [...]”.De quem
você acha que o apóstolo Paulo retirou essa ideia magnífica de que o homem é
salvo exclusivamente pela fé, sem as obras? Do Senhor Jesus Cristo! Esta
parábola ensina exatamente isto. Se o que Jesus disse é verdade, prezado
leitor, assuma que você é pecador, que tudo que você fez de bom não pode ajudá-lo
a se salvar, creia que Jesus fez a sua expiação na cruz e siga-o, por gratidão,
durante toda sua vida. Você voltará para sua casa justificado!
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