UM HOMEM E UM POVO
Que química há
entre Jesus e o povo? Nos dias da sua vida terrena era cercado de multidões que
gostavam de ouvi-lo e estar perto dele. Hoje, em qualquer lugar onde o
evangelho é pregado, forma-se uma igreja, um grupo, um povo que se reunirá em
torno dele, mesmo que isto lhes custe a vida. Jesus, tanto lá atrás como agora,
está cercado por um povo que tem prazer em estar com ele. Vamos ver um pouco
desta ligação entre Jesus e o povo no texto de Lucas 21.37,38.
“Ora, de dia ensinava no templo; e à noite, saindo, pousava no
Monte chamado das Oliveiras” (v. 37). Jesus encerrou seu sermão
escatológico. É sua última semana de vida; ele sabe disto e passa seu tempo
final ensinando o povo! Durante o dia, era isto que ele fazia. Ensinar, para
Jesus, era a melhor forma de falar do Pai. Ele disse em João 6.45: “Está escrito nos profetas: ‘E serão todos ensinados por
Deus’. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”.
Jesus é o grande revelador e mestre que ensina acerca de Deus e sua vontade.
À noite, ele se
alojava na casa de alguém, ou montava uma barraca ou ia num alojamento popular
com o povo. Isto porque ele pernoitava no Monte das Oliveiras, lugar onde se
hospedavam as pessoas pobres que vinham festejar a Páscoa em Jerusalém. Nestes
dias, a cidade de Jerusalém ficava apinhada de romeiros vindo das várias
regiões de Israel e até de terras estrangeiras. O pernoite em Jerusalém era
muito caro e o povão ia para o Monte das Oliveiras, uma das entradas possíveis
e, portanto, periferia da cidade. Temos aí, um homem que já era muito famoso,
tido pelo povo como profeta, que se mistura com este mesmo povo sem nenhum ar
de superioridade. Imagine Jesus, de noite, num alojamento popular, comendo,
ouvindo o relato de outros romeiros, rindo, falando das coisas de Deus,
preparando sua cama e dormindo pesadamente até a manhã seguinte. Ele, pobre
junto com outros pobres. Ele que amava muito aquela gente simples e gostava
demais de conviver com eles.
Lucas narra agora
a reação do povo a Jesus: “E todo o povo ia ter com ele
no templo, de manhã cedo para o ouvir” (v. 38). Naquela semana, todos os
dias de segunda a quarta-feira, havia um povo numeroso que levantava bem cedo
para tomar seu café e correr para as escadarias do Templo. O motivo de tamanha
pressa era ouvir o mestre galileu chamado Jesus e que lhes arrebatava o
coração. Eles faziam questão de se levantar bem cedo mesmo para estar ali. Já
iam dormir ansiosos que a manhã chegasse logo, para desfrutar este prazer.
Jesus tinha uma audiência cativa fiel que queria ouvi-lo falar. Ouvir Jesus era
melhor que qualquer outra programação. Para eles, só havia um mestre religioso
amado: Jesus de Nazaré. Todos os demais tratavam-nos com profunda arrogância,
orgulho e soberba. Nenhum mestre dirigia a palavra a eles, pois consideravam
isto perda de tempo. Nenhum mestre ensinava-os e nem se importava com eles.
Aliás, os mestres falavam mal do povo o tempo todo. Os mestres ensinavam apenas
seus discípulos e alguém precisava ser muito bom ou rico para conseguir esta
vaga. Mas com Jesus tudo era diferente: ele era tão pobre como eles, mas isto
não o fazia infeliz. Jesus se misturava com o povo e se importava com o que
acontecia nas suas famílias. Jesus falava de um modo que eles entendiam e
falava com autoridade dele mesmo. Havia uma liga entre eles e Cristo. O povo
amava Jesus e, ao nascer do sol, já o aguardava na escadaria do Templo para
ouvi-lo. O povo ama quem o ama!
Quero aqui dar uma
explicação importante acerca do povo em relação a Jesus. Desde criança
frequentando igreja, cansei de ouvir falar que o povo é muito volúvel e indigno
de confiança, pois o mesmo povo que aclamou Jesus no domingo, gritou “crucifica-o”
na sexta-feira. Esta concepção não é correta, pois os grupos são bem diferentes.
A multidão que aclamou Jesus no domingo e que o está ouvindo é chamada de povo
(v. 38). Em grego do Novo Testamento a palavra é “laós”. Laós é um povo
organizado em comunidade. No caso, são pessoas simples e pobres de Israel,
cidadãos conscientes de pertencimento a este povo e que amavam profundamente
Jesus. A multidão que vai gritar “crucifica-o” é identificada da seguinte forma
em Lucas 23.1: “E levantando-se toda a multidão deles, conduziram Jesus a
Pilatos”. A palavra “multidão” aí é “pletos” que significava uma multidão
formada ocasionalmente para alguma coisa: no caso, levar Jesus a Pilatos para
ser julgado. Observe que Lucas diz “toda a multidão deles”. Essa palavra “deles”
refere-se ao Sumo-sacerdote Caifás e os líderes religiosos do Sinédrio judaico.
Não era o povo de Jerusalém, não eram as pessoas do domingo anterior; pelo
contrário, era uma turba reunida pelos sacerdotes com o objetivo de forçar
Pilatos a condenar Jesus. São dois grupos completamente distintos. O povo, o
povão, sempre esteve com Jesus em todos os momentos. Foi o povão que ajudou
Jesus a carregar a cruz na pessoa de Simão Cireneu, eram as mulheres do povo
que choravam quando Jesus ia no seu cortejo para a execução, e muitos deles
assistiram à crucificação. Mas foi este povo que se converteu no dia de
Pentecostes (quase 3.000 pessoas), porque já amavam aquele Senhor de quem Pedro
falava. Eles já o conheciam no coração!
Nós, discípulos de
Jesus, além de sermos na grande maioria, parte do povo pobre e simples, devemos
amar este povo como Jesus o amou, e fazer todo o bem, tratar com respeito e
evangelizar. Se isto acontecer, o povo de agora também amará Jesus. Mas, se
nossa atitude, for a de passar o tempo todo falando mal de gays, feministas,
pessoas que abortam, prostitutas e outros grupos semelhantes, e nos
distanciando do povo pela acusação de que são pecadores incrédulos, como
conseguiremos transmitir o amor de Jesus? Não precisamos transformar as pessoas
primeiro para, só depois, acolhê-las. Basta amar e receber como ser humano
amigo. A transformação, Jesus fará, pois ele ama o povo!
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