A RADICALIZAÇÃO DO DISCIPULADO
Quando dizemos a
alguém: “você radicalizou”, dizemos que ele tomou uma atitude extrema, não
comum. A radicalização indica que a pessoa tomou uma decisão e vai seguir nela,
mesmo contra a opinião da maioria. No texto de Lucas 6.27-31, Jesus radicaliza seu discipulado: poucos se enquadrarão
aqui.
Jesus manda amar
(este é o verbo que ele mais gosta), o tempo todo, não os amigos, mas os
inimigos (v. 27). Ninguém nunca ensinou isto. Olhe todas as religiões e
filosofias que não tenham a ver com o cristianismo e você encontrará que a
atitude com o inimigo ou é de combate ou de indiferença. De onde Jesus tirou
esta ideia revolucionária de amar os inimigos? Certamente, da atitude de Deus,
seu Pai. O Pai de Jesus ama seus inimigos: “porque Deus AMOU O MUNDO de tal maneira
que deu seu único Filho ...”. Esta demonstração de amor ao inimigo é realizada
pela pessoa como um todo, mas Jesus menciona três áreas da vida para
exemplificar o que ele está dizendo. A primeira área é a das atitudes: “façam o
bem aos que os odeiam”. Por amar, faz-se o bem e não o mal àqueles que
claramente não gostam de nós. Veja que a atitude de fazer o bem é toda do
discípulo de Jesus e não da outra pessoa. Não é um “toma lá, dá cá” e jamais
uma vingança. São atos claros de bondade. A segunda área mencionada por Jesus
tem a ver com as palavras: “abençoem os que os amaldiçoam” (v. 28). Por amar,
sempre falamos bem daquele que fala mal de nós. Jesus não está dizendo que
devemos mentir, bajular ou esconder a realidade da outra pessoa e sim que a
palavra de seu discípulo só é dita se for para fazer bem, principalmente a quem
o amaldiçoa. A terceira área é a dos desejos: “orem pelos que os maltratam”.
Geralmente, oração é feita quando a pessoa está só, ela e Deus. Se quando está
sozinha, ela é capaz de orar em favor do inimigo, isto significa que seus
desejos estão marcados pelo amor. Em todos estes exemplos, fica claro que o
outro continua a fazer o mal, mas o discípulo de Jesus toma a atitude radical
de só fazer o bem, de amar. Leitor: esta tem sido sua atitude? Você vive desta
maneira? Ou você segue a correnteza da normalidade “dando o troco” a quem lhe
faz o mal ou, quando muito, tornando-se indiferente àquela pessoa? Se você é
discípulo de Jesus comece a mudar o rumo de sua vida para ajustar-se ao que o Mestre
falou aqui.
Mas a
radicalização de Jesus continua. Ele vai dizer: “se alguém lhe bater numa face,
ofereça-lhe também a outra. Se alguém lhe tirar a capa, não o impeça de
tirar-lhe a túnica” (v. 29). Esta é uma das ordens mais mal compreendidas de Jesus.
Aqui ele não quer ser entendido literalmente. E isto é fácil de provar. Leia
João 18.19-23 e vai ver que um soldado do sumo-sacerdote deu uma bofetada em
Jesus quando ele estava amarrado e ele não deu a outra face! Pelo contrário,
chamou a atenção do soldado que lhe bateu. Naquela ocasião, ele não deu a outra
face, mas lembre-se que, pouco tempo depois, deu a vida! O que então ele queria
dizer com “dar a outra face”? “Assombrar” o outro (que bate em nós) com uma
decisão passiva totalmente inesperada: não se vingar, de forma alguma. O
discípulo de Jesus toma uma decisão ativa de abençoar e ajudar quem lhe faz o
mal. Já vi e ouvi falar de muitas pessoas que, sendo roubadas por adolescentes
ligados ao tráfico e às drogas, resolveram ajudar uma ONG que trabalha na
recuperação deles. Isto é dar a outra face! Quando morava no Nordeste, vi a
reportagem de uma mulher crente no Recife que, tendo perdido o único filho
morto num assalto, procurou o assassino do filho na prisão e disse a ele: “você
matou o meu filho e, de agora em diante, eu vou cuidar de você e resolvi
adotá-lo como meu filho no lugar daquele que você matou”. Isto é dar a outra
face!
No v. 30, Jesus
diz que devemos encontrar maneiras de ajudar as pessoas. De sermos generosos,
repartindo com quem precisa aquilo de que podemos dispor. De sermos solidários
e amigos com as pessoas.
Será que Jesus
queria transformar seus discípulos em gente trouxa e frouxa, de quem os outros
se aproveitam? Penso que não, porque ele sempre ensinou a dignidade de cada ser
humano. O que ele queria, para seus discípulos, com esta mensagem radical?
Primeiro: que eles fossem ativos promotores do bem e do amor num mundo mau e
violento. Que esta seja a nossa característica de vida. Segundo: ele nos quer
fazer parecidos com Deus. Não pode ser o normal do mundo, tem de ser diferente,
tem de radicalizar.
Jesus termina
este parágrafo com o princípio que norteia todas estas atitudes: “como vocês
querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles” (v. 31). O
discípulo não fica esperando que os outros lhe façam o bem para ele retribuir
com mais bem. Ele toma a decisão de fazer o bem primeiro, independente da
atitude do outro. Algo incrível acontece quando se age assim: o bem sempre
retorna para você. Mas, o mais importante, é que você fica parecido com Deus.
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