ESPALHANDO A MISERICÓRDIA DE DEUS
O Deus cristão
que a Bíblia apresenta, comparado com os deuses de outras religiões, parece um
Deus “mole e fraco”: ele perdoa, ele não usa a força para convencer, ele não se
defende. O Deus cristão ajuda a todos, quer creiam nele, quer não. Uma pessoa
nega a sua existência, outra o amaldiçoa, mas ele prossegue no firme intento de
abençoar estas pessoas com a vida, família, trabalho, dinheiro, produção,
amigos, etc. E mais, ele se gloria exatamente nisto, pois diz que é sua graça e
misericórdia e ele tem prazer em ser e agir assim. Ele está tão seguro deste
modo de ser que quer que seus discípulos, através de Jesus Cristo, o imitem.
Esta é a mensagem de Jesus em Lucas
6.32-36.
Nos v. 32-34,
Jesus faz três perguntas retóricas a seus discípulos: em que se demonstra em
nós a graça de Deus se amamos quem nos ama? O que há de mais em fazer o bem a
quem lhe faz o bem? O que há de mais para os discípulos se eles emprestam a pessoas
que eles têm a certeza que vão devolver? Jesus diz que estas atitudes são tão
comuns no mundo que até pessoas que chamamos de ruins fazem isto. Ao fazermos
estas atitudes, estamos nos nivelando ao normal das pessoas, ao senso comum. Jesus
pergunta-nos: “o que há de mais nisso?”. A resposta é: nada. Ser discípulo de
Jesus é ir além do senso comum. É fácil amar os iguais, mas Jesus quer que
amemos os diferentes de nós.
O que Jesus quer
que façamos então? Ele mesmo diz: “amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o
bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta” (v. 35). Em outras
palavras: amem, sem reservas, os diferentes de vocês! Jesus nos propõe aceitar
um estilo constante de vida na qual vamos nos tornando, não sem esforço,
pessoas graciosas e misericordiosas com todos: à pessoa que nos faz o mal, às
pessoas difíceis e que não dão retorno às nossas ajudas. Ele nos chama a fazer
o bem a todos e dar sem esperar receber de volta. Como evangélico que sou vejo
a tremenda dificuldade de nosso grupo em obedecer estas palavras de Jesus. Nós,
que somos evangélicos, só amamos os que também são deste grupo e olhe lá! O que
aprendo com Jesus aqui é que, como evangélico, tenho que amar, sem reservas, os
que praticam outras religiões: os católicos, espíritas, adeptos do candomblé e
macumba, testemunhas de Jeová, muçulmanos, entre outros. Amar os ateus. Amar
aqueles que têm uma prática de vida diferente daquela que ensinamos: os
homossexuais, os adúlteros, os fornicadores, os corruptos, os violentos, os
pedófilos, os criminosos. Ao amá-los, sem reservas, não estamos concordando com
práticas e fés que julgamos erradas. Não vamos também, na hora certa, deixar de
falar daquilo que julgamos ser a verdade da crença e da ética. O que quero
dizer é que os atos de amor, graça e misericórdia precedem qualquer tipo de diferença
que venhamos a notar. Amar, primeiro; julgar, bem depois, e só se for
necessário para o exercício do amor.
Quando agimos
assim, com misericórdia e amor acontecem duas transformações conosco. A
primeira transformação é que nos tornamos ricos diante de Deus (v. 35). Parece
que estamos perdendo, ficando por baixo dos outros mas Jesus diz que nossa
recompensa será grande diante de Deus. Há um grande lucro pessoal em agir
assim. A segunda transformação é que nos tornaremos filhos do Altíssimo. Jesus
disse: “porque ele é bondoso para com os ingratos e maus”. Veja bem o que está
escrito no texto: Deus é bondoso para com os ingratos e maus! Deus age desse
jeito com gente que não presta, não merece, mas ele age assim porque ele é
assim. Cada vez que assumimos o estilo de vida de agir com misericórdia e graça,
nos tornamos parecidos com o Pai celestial. Filhos que carregam o mesmo DNA do
Altíssimo.
Deus está sendo
misericordioso agora (v. 36). A maior demonstração da misericórdia e amor de
Deus foi a morte de Jesus na cruz para pagar o pecado dos pecadores. O apóstolo
Paulo diz: “mas Deus demonstra o seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor
quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5.8). Será que você consegue entender e
crer na misericórdia de Deus em seu favor e de todas as outras pessoas da
humanidade? Torne-se misericordioso também, como ele é.
Fui criado no
grupo chamado “evangélico” e tornei-me um deles por vontade pessoal quando
ainda era criança e entreguei minha vida a Jesus. Mas confesso que ainda estou
muito longe de ser uma pessoa do tipo que Jesus falou. Tenho muita dificuldade
em amar o diferente, àquele que se opõe a mim. No entanto, tenho tentado sair
dos preconceitos do meu “gueto” evangélico, enraizados na minha vida, a fim de
olhar o outro com amor. Que Deus continue a ter misericórdia deste pecador que
sou eu, e continue me transformando à sua imagem.
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