O OLHO, O CISCO E A VIGA
Quando eu era
criança e caia um cisco no olho, lembro-me que minha mãe abria bem a pálpebra
do olho e dava um assopro bem forte. Resolvia meu problema. Quanto maior o
cisco, maior o desconforto. Penso naqueles que são cegos. Não podem ver, mas,
hoje em dia, eles têm uma vida quase autônoma. Sabem ler através do alfabeto
braile, andam na rua sem precisar de ajuda e muitos trabalham normalmente,
dentro de suas limitações. No texto de hoje, Jesus nos dá dois ensinamentos que
têm a ver com a visão. Isto em Lucas
6.39-42.
O primeiro
ensinamento de Jesus é que você só pode ensinar o que vê e vive (v. 39,40). Os
cegos, na época de Jesus, não tinham a autonomia que têm hoje. As pessoas
daquela época achavam que a cegueira era fruto de maldição ou pecado. Eles não
estavam aptos para o trabalho, dependiam sempre da ajuda dos familiares e
amigos para viver e boa parte deles mendigava. Jesus diz que um cego não pode
guiar outro cego, senão ambos cairão em algum buraco (v. 49). Para guiar alguém
na vida é preciso enxergar para onde se quer ir. É necessário que o guia
consiga ver o caminho a ser trilhado. E mais, conhecer o caminho é já tê-lo
percorrido, experimentado, vivido. No Reino de Deus, não consigo guiar alguém
no caminho da santidade se eu próprio não a vivo. Não consigo orientar meus
irmãos na fé se estou vivendo de uma forma errada. Se for cego com outros
cegos, como posso guiá-los? O guia cristão deve saber para onde vai e ter
vivido o que ensina.
No Reino de
Deus, algumas pessoas tornam-se mestres de outras. Elas tornam-se mestres, não
por títulos ou ordenações, mas por terem uma vivência com Deus, experiência e
estudo sério da Bíblia. Estas pessoas devem assumir a tarefa de ensinar os
discípulos de Jesus. Não devem fugir desta responsabilidade. Cabe aos
discípulos aprender com seus mestres. Hoje, um aluno pode ir muito mais longe
que seu professor porque há livros, bibliotecas, cursos, internet e outras
oportunidades de crescimento. Na época de Jesus não era assim. O discípulo
tinha apenas o seu mestre como fonte de conhecimento. É por isso que Jesus
disse que o discípulo não seria mais que o mestre e que bastava a ele ser como
seu mestre (v. 40). Portanto, quando o discipulado acabava, o bom discípulo
chegava ao mesmo nível do mestre e agora começaria um novo ciclo de ensino no
qual ele seria o mestre. Aquele que é mestre deve desenvolver este dom na vida
e abençoar a vida de muitas pessoas. Quem é discípulo, olhe para o exemplo de
seu mestre e procure ter uma vida tão honrada quanto a dele.
O segundo
ensinamento de Jesus é que você só ajuda alguém a ver se for sincero (v.
41,42). Jesus pergunta, no v. 41, como pode um homem ver um cisco no olho do
outro se, na frente de seus olhos, está uma enorme viga de madeira. Jesus está
perguntando então como pode alguém “ver” os pequenos defeitos e faltas do outro
e “não ver” o seu grande defeito. O único jeito de fazer isto é sendo
hipócrita! E este homem, que está com a viga nos seus olhos, ainda quer tirar o
cisco do olho do outro. Veja que disparate! Há pessoas que gostam de dar lição
de moral nos outros quando a vida está toda errada. Homens que gostam de
proibir a entrada de mulheres na igreja por causa da roupa delas, que eles
consideram indecente, mas eles próprios estão adulterando. Outros ensinam seus
filhos pequenos a devolver o troco dado a mais, mas, no trabalho deles, estão
corrompendo pessoas para ganhar milhares de reais. Neste sentido, a lista de
maus exemplos é muito longa em nossa sociedade.
Quem age assim
continuamente é um hipócrita e tende a “ver” as coisas assim: “o meu erro é
sempre um cisco, o erro dos outros é viga!”. Hipócrita é um sujeito de duas
caras: uma externa e bonita, de aparência; a outra é interna, aquilo que ele
realmente é, e que é muito feia. Jesus nos dá um conselho precioso: se quer
ajudar os outros, cuide primeiramente de sua vida (v. 42). Trate seus pecados,
seus vícios, seus erros. Quando você estiver neste processo de limpeza pessoal,
então ajude seus irmãos que têm pequenos defeitos. Trate-se primeiro e depois
ajude os outros. Jesus quer que nos examinemos constantemente e tratemos de
nossas patologias espirituais. Quem consegue enxergar criticamente a si
próprio, consegue enxergar com benevolência o seu próximo.
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