DO PODER INCRÍVEL À FRAQUEZA EXTREMA
O deputado
federal André Vargas, em 2013, estava cotado para ser o próximo presidente da
Câmara dos Deputados. Numa sessão da Câmara em que esteve presente o ministro
do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que havia condenado os réus do
mensalão, ele levantou a mão com o punho cerrado, identificando-se com os
colegas de partido presos no julgamento efetuado por Barbosa. Seu poder estava
no auge. Dois anos depois, já ex-deputado, envolvido em crimes de corrupção,
aparece algemado, cabisbaixo e preso em processos que vão levá-lo à condenação.
A aparência agora é de um homem muito fraco. No texto de Lucas 9.43b-45, Jesus fala que ele vai passar por este processo do
poder à fraqueza, só que em nome do bem e da salvação do homem.
O v. 43b diz:
“estando todos maravilhados com tudo o que Jesus fazia, ele disse aos seus
discípulos ...”. Como o povo daquela época, ao olharmos tudo o que Jesus faz,
ficamos maravilhados com o seu imenso poder de fazer o bem, de curar, de
transformar vidas, de suprir necessidades. E pensamos assim: “certamente, com
Jesus no coração, a minha vida vai ser muito boa, excelente até. Todas as
minhas necessidades serão supridas por ele porque é poderoso e bom”. Projetamos
uma vida de bênção, sem dor, sem sofrimento e sem necessidade de lutar. Muitas
pessoas pensam que, porque seguem a Jesus, ficarão livres daqueles sofrimentos
terríveis como a perda de alguém da família ou alguma outra desgraça horrível.
Neste momento, Jesus dá uma palavra a quem é discípulo dele.
A palavra é:
“ouçam atentamente o que vou lhes dizer: o Filho do homem (ele próprio) será
traído e entregue nas mãos dos homens” (v. 44). Que palavra negativa! Que bomba
para os discípulos! E Jesus ainda pede que ouçam tal coisa atentamente! Jesus
diz que os homens serão extremamente cruéis em relação a ele. Uma das
crueldades é ser traído. Ninguém espera de uma pessoa que lhe declara amor que
ela lhe engane e prejudique deliberadamente. Espera-se isto dos inimigos, nunca
de alguém que se declara amigo. Numa traição conjugal, a dor de ser enganado é
tão forte que, muitas vezes, coloca um ponto final no casamento e transforma o
amor em ódio por parte do cônjuge traído. Jesus, o poderoso, sabia que ia ser
traído por um discípulo e não fez nada para evitar isto. Mas, tinha mais: ele
“seria entregue” nas mãos dos homens. Eles fariam o que é do seu feitio:
bateriam muito nele, xingariam, colocariam uma coroa de espinhos em sua cabeça,
iriam ridicularizá-lo na frente de todos e o crucificariam. Jesus, inerte,
aceitaria tudo isto calado.
O mesmo homem
que faz milagres e portentos poderosos e que deixa as pessoas maravilhadas com
seu poder mostrar-se-á absolutamente fraco, sem nenhum poder de reação. Digo a
você, leitor, que, da mesma forma isto sucederá com os discípulos de Jesus em
várias ocasiões, inclusive na morte. Em você, que é discípulo, poder espiritual
e fraqueza humana estão juntos o tempo todo. Haverá momentos de sua vida em que
o poder de Deus sairá de você para resolver uma situação complicada. Num
momento seguinte, você não conseguirá resolver uma situação simples da vida, a
ponto de se abater e pedir ajuda. Somos assim: fortes e fracos ao mesmo tempo.
Por causa disto, precisamos da ajuda e orientação do Espírito Santo em todo o
tempo. Por isto é necessário orar sem cessar. No caso de Jesus, a frase “será
entregue” indica não apenas a ação humana de traição, mas também o desígnio do
Pai: Deus quer que seja assim. Nossa incapacidade de resolver as coisas, além
de ser uma demonstração de nossa fraqueza, também é a disposição de Deus para
que saibamos que somos fracos.
O v. 45 diz:
“Mas eles não entendiam o que isso significava; era-lhes encoberto para que não
o entendessem. E tinham receio de perguntar-lhe acerca desta palavra”. Eles não
entenderam nada do que Jesus falou. Neste não entendimento, há uma atitude
humana. Eles eram responsáveis por não entender. Eles já tinham muitos dados
dos fatos e palavras de Jesus suficientes para preencher o quebra-cabeça de sua
morte expiatória em nosso favor. O problema é que não queriam compreender, pois
isto acabaria com seus sonhos. Por isto, não perguntam nada. Diante da fraqueza
da cruz, todos os discípulos debandaram, pois o sonho acabou. Ao mesmo tempo,
há uma atitude divina aqui: Deus não queria que eles compreendessem o seu plano
neste momento da história, que tudo ficasse oculto. Há uma santa conspiração na
Trindade para salvar a humanidade: Jesus teria que ficar só, sem poder algum,
numa cruz terrível.
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