A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO (2ª Parte)
POR QUE NÃO AMAMOS O PRÓXIMO?
Se amar a Deus
com todo o ser e ao próximo como a nós mesmos, por que temos tanta dificuldade
em fazer isto? Se desejamos amar, por que ocorrem tantos crimes, guerras,
vinganças, violências, ciúmes, ódios, brigas e separações? Um intérprete da Lei
de Moisés perguntou para Jesus o que deveria fazer para herdar a vida eterna.
Jesus lhe perguntou o que ele lia na Lei sobre isto? Ele respondeu com o duplo
mandamento do amor: a Deus e ao próximo. Jesus disse que ele respondera bem e
que fizesse isso. Para aquele intérprete, amar a Deus era até fácil. Mas, e o
próximo? É esta questão que Jesus começa a elucidar em Lucas 10.29-32.
O texto diz que
o intérprete da Lei “querendo justificar-se”, perguntou a Jesus: “quem é o meu
próximo?” (v. 29). Na primeira pergunta, ele quis tentar e humilhar Jesus. Ele
estava no ataque. Agora, ele tenta se justificar e, ao fazer a pergunta,
coloca-se na defensiva. Progressivamente, ele vai perdendo a questão para
Jesus. A pergunta pelo próximo tinha duas respostas correntes no Israel daquela
época. A maioria entendia que o próximo era alguém do próprio povo de Israel.
Qualquer israelita era o próximo, mas um gentio (pessoa de outro povo) não era.
O grupo da elite entendia que o próximo era apenas o que seguia corretamente a
Lei de Moisés. Neste caso, só os melhores em Israel mereciam ser amados. O
intérprete da Lei pensava assim: “amar a Deus é fácil para mim; se Jesus
responder que o próximo é alguém do povo de Israel, então eu consegui os dois
feitos”. Desta forma, ele pensa sair louvado por Jesus.
Jesus não
responde com uma lista de pessoas que eram ou não o próximo. Ele conta uma
estória. Esta estória (parábola) ele inventa, mas tira da vida real de Israel.
Diz ele: “um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu na mão de
assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o
quase morto.” (v. 30). Um homem israelita comum descia para Jericó. Jerusalém
fica em um monte (Sião) e, para qualquer lugar que se vai tem de descer. Jericó
ficava a 28 Km de distância. Aquela era uma estrada íngreme e cheia de muitas
curvas. Os assaltantes ficavam escondidos em penhascos, espreitando para atacar
em bando. Este homem foi vítima de assaltantes violentos. Tiraram sua roupa,
roubaram seus bens e dinheiro e bateram tanto nele que ficou quase morto,
jogado ao lado da estrada, desacordado e ensanguentado. Sem falar e sem roupa,
não podia ser identificado. Jesus nos diz que o mal, feito pelo homem, sempre
está presente, infelizmente.
“Aconteceu estar
descendo pela mesma estrada, um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo
outro lado” (v. 31). Sacerdote era membro de uma elite em Israel e, portanto,
devia estar a cavalo. Os sacerdotes oficiavam no templo de Jerusalém, por
turnos. Para oficiar, eles estavam submetidos a algumas regras de pureza
cerimonial. Duas destas regras estavam em jogo nesta estória. Uma regra dizia
que o sacerdote ficaria impuro se tocasse em alguém morto. Outra dizia que era
impuro se tocasse ou fosse na casa de um gentio (não israelita). Ao ver o homem
caído, o sacerdote, do alto do seu cavalo, não sabendo se ele estava morto ou
se era um gentio, deu mais valor às regras de sua religião, ao salário que não
receberia e à vergonha perante seus colegas se ficasse impuro. Ele avaliou tudo
isto e resolveu não ajudar aquela pessoa. Virou seu cavalo para o outro lado e
seguiu sem ajudar. O primeiro motivo para não ajudar os outros é a
insensibilidade ditada por regras religiosas e sociais.
A segunda pessoa
foi um levita: “e assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu,
passou pelo outro lado” (v. 32). Um levita era um trabalhador braçal do templo,
subordinado aos sacerdotes. Ele não tinha as mesmas regras de impureza do
sacerdote. Como era um trabalhador do povo, ia a pé. Quando chega perto, vai
até o homem, percebe que ele ainda está vivo, mas vai embora sem ajudar. Por
quê? Certamente ele viu o sacerdote, seu chefe, passando por ele a cavalo. De
longe, viu que o sacerdote não parou. O levita pensou assim: “se minha
autoridade religiosa não ajudou este homem, então eu não devo ajudar também. Se
eu ajudar, posso ficar mal com meu sacerdote, que é meu líder”. O segundo
motivo é quando seguimos as “ordens” de um superior (seja de que tipo for) para
não ajudar e, covardemente, aceitamos estas orientações e deixamos a pessoa
morrer na estrada.
Até aqui, Jesus
nos ensina que não amamos o próximo porque pensamos mais em nós mesmos do que
nele. Algumas vezes somos cruéis e praticamos o mal. Outras vezes, temos uma
posição a manter e, por causa disto, não ajudamos os que pertencem a outro
grupo diferente do nosso. Criamos uma insensibilidade para com o sofrimento do
outro, que não nos toca. Outro motivo é o medo do que vão dizer se eu ajudar
certas pessoas. Crueldade, insensibilidade e medo fazem com que não amemos nem
a Deus e nem ao próximo. Isto é muito perigoso.
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