A REVELAÇÃO DE DEUS
Professor Whitson Ribeiro da Rocha
DEFINIÇÃO
A palavra revelação vem do
termo grego apokalipsis que tem o sentido de “tirar o véu, desencobrir,
mostrar”.
Revelação é, portanto, a
atitude de Deus de se mostrar ao homem como ele é e seus atos salvadores, bem
como sua interpretação. Deus se revela ao homem e por isto podemos conhecê-lo.
A
REVELAÇÃO NA HISTÓRIA
As religiões politeístas da
época de Israel fixavam-se na natureza por causa do ciclo anual e por isso
desenvolveram uma visão cíclica de mundo e da história a partir da natureza.
Tudo começa e recomeça sempre.
Israel fixa-se na história,
e não na natureza, como a esfera fundamental da revelação de Deus. Israel
adotará uma visão linear, e não cíclica, da história.
O maior ato revelatório de
Deus no AT, e aquele que inicia o processo de revelação de Deus ao povo de
Israel, é o êxodo, ou seja, a libertação da escravidão egípcia (Ex 19.4). A
partir do êxodo Deus é conhecido (Ex 6.6,7; Sl 78.4-7; Os 11.1,4). O povo de
Israel faz a recitação deste momento como o evento gerador do povo (Dt 26.5-9;
6.20-24). No êxodo o pacto é feito (Ex 19.5,6) e este é um pacto perpetuo entre
Deus e seu povo.
Na história de Israel Deus
se revelou de forma pessoal. Escolheu a Abraão (Gn 12.1-3) e fala a Moisés (Ex
3.13-15), Davi (II Sm 7.20-24) e aos profetas (Jr 7.25). O ateísmo consiste não
em negar a Deus, mas em negar os seus atos (Sl 14.1; Jr 5.12).
A revelação especial envolve
eventos históricos únicos relacionados à libertação divina os quais encontram seu
clímax na encarnação, expiação e morte de Jesus Cristo. Em toda a história da
revelação de Deus a presença e obra de Jesus Cristo é o supremo desvendamento
da sua vontade. Todo o NT é a recitação dos atos de Deus em Cristo (I Co
15.3,4; Jo 3.16; Rm 5.8; Hb 1.1,2). Toda a Bíblia gira em torno da vida
histórica de Jesus de Nazaré (o AT Rm 16.25,26; os evangelhos, o livro de Atos
At 1.1, as epístolas e o Apocalipse Ap 1.1).
O evento revelatório pode
ser natural (ex.: o cativeiro babilônico), mas geralmente tem um caráter
sobrenatural mostrando mais claramente a ação de Deus na história.
Neste sentido, a história é
interpretada pela palavra de Deus. Veja estes exemplos:
1) Rm 5.8 Jesus
morreu na cruz (ato histórico) ® o amor de Deus por nós (interpretação)
2) Rm 4.25 Jesus
foi entregue/morto (ato histórico) ® por nossos pecados (interpretação)
Jesus
foi ressuscitado (ato histórico) ® para nossa justificação (interpretação)
Os eventos históricos são
revelatórios somente quando são acompanhados pela palavra revelatória. O
ato-palavra se constitui revelação.
Dialeticamente, a palavra
também cria o ato histórico. Exemplos: a palavra cria (Gn 1.3), o evento do
êxodo predito (Gn 15.13,14), a palavra profética (Dt 18.22), a morte do povo no
deserto (Nm 14.35), acerca do Messias sofredor (Is 53), queda de Jerusalém (Mc
13.2), a morte e ressurreição (Mc 8.31).
Deus se revelou na história
de Israel, em Jesus Cristo e na sua Igreja. Deus se revelou através do
ato-palavra e da palavra-ato.
A
REVELAÇÃO PROGRESSIVA DE DEUS
Deus vai se revelando
progressivamente no AT.
Pouco se conhece de Deus no
período anterior a Abraão.
Deus escolhe e revela-se de
forma pessoal a Abraão e seus descendentes (Gn 12.1-3). Através de Abraão Deus
se revelará ao mundo (Gn 12.3).
Esta revelação progride com
Moisés:
-
Deus revela seu nome: YAHWEH (transliterado: Jeová) “eu sou o que sou” (Ex 3.14,15);
-
Deus cria seu povo (Ex 19.5,6);
-
Deus dá sua lei (Ex 20.1ss);
-
Deus se revela de forma portentosa (Ex 15.11,14; Js 2.9,11).
Há progressão em Davi e nos
escritos poéticos quando enfatizam o caráter de Deus tais como suas
misericórdias, seu amor pelo seu povo, sua benignidade, etc. (Sl 106; 116) e
também por enfatizar o “temor do Senhor” como princípio de vida (Pv 1.7; ).
No AT a maior revelação de
Deus se dá nos profetas (Jr 7.25; Am 3.7,8). Por que?
-
eles enfatizam o caráter de Deus (Jr 31.3; Os 11.4);
-
eles mostram um Deus ético (Mq 6.8; Is 1.16,17);
-
eles revelam o plano de Deus na história (Is 42.5-8).
A maior revelação de Deus é
Jesus Cristo:
-
ele é o Deus-Homem (Jo 1.1,14);
-
ele é o revelador do Pai (Jo 1.17,18; Mt 11.27)
-
Jesus é o auge da revelação de Deus (Hb 1.1,2): a revelação terminou em
Jesus.
Todo o NT gira em torno de
Jesus Cristo: é a reflexão acerca dele. O AT aponta para ele.
No NT, o apóstolo Paulo é
quem mais se aprofunda na reflexão sobre Jesus:
-
sua reflexão é revelação pois é guiada pelo Espírito Santo (I Co
2.12,13);
-
os outros apóstolos reconhecem isto (II Pd 3.15,16);
-
agora, com a presença de Jesus, é possível desvendar os mistérios de
Deus (I Co 2.7,10; Ef 1.9; 3.3,8,9);
-
sua reflexão é sempre dependente da vida e do ensino do Senhor (I Co
2.2; Gl 1.11,12).
No evento Jesus, Deus se mostra
como é. É possível conhecê-lo. Deus não revela mais nada sobre si além do que
revelou-se em Jesus Cristo.
Deus se revela sempre dentro
da cultura do homem. Por isso algumas palavras de Deus estão condicionadas ao
tempo e ao espaço. Exemplo: a lei de Moisés, costumes ordenados, etc.
Neste aspecto, conforme a
progressão na revelação, o antigo costume ordenado perde sua força: - o castigo dos pais nos filhos: Ex 13.15
Þ Dt 24.16
Ez 18.2,4
-
a lei de Moisés: Dt 27.1 Þ Gl 3.24,25
Hb 8.6,7,13 Jo 1.17
-
costumes do NT: I Co
11.2-16 I Co 14.34,35 I Tm 2.11,12
Existe uma relação dialética
desde o início até o fim da revelação bíblica. Porém, há uma progressão na
revelação para princípios mais espirituais, válidos em toda cultura.
REVELAÇÃO GERAL E ESPECIAL
Revelação geral é aquela
dada por Deus a toda a humanidade em todos os tempos através da criação, ou
seja, a natureza (Sl 8.1; 19.1-6; At 17.26-28; Rm 2.14,15).
Nesta revelação pode-se
conhecer algo de Deus, mas muito pouco (Rm 1.19). O que se pode conhecer: poder
e divindade de Deus (Rm 1.20). Mesmo este conhecimento é deturpado pelo fato do
homem ser pecador (Rm 1.21,23).
A revelação geral não salva.
Deve ser o início da inquirição, da busca pelo verdadeiro Deus poderoso e
divino.
Revelação especial é aquela
dada por Deus através da Bíblia.
Nesta revelação podemos
conhecer tudo o que Deus quer revelar a nós (Sl 19.7-14; I Co 2.12,13).
Esta revelação mostra quem
Deus é na sua integralidade (Is 40.12-31; 41.4; I Jo 1.5; 4.8), assim como sua
obra (Ef 3.9,10).
Esta revelação é a única que
revela Jesus Cristo (Jo 5.39; Lc 24.27). Por isso é a revelação bíblica que
pode salvar (II Tm 1.13,14; 3.15).
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