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TEOLOGIA SISTEMÁTICA - 01.02 - A REVELAÇÃO DE DEUS

A REVELAÇÃO DE DEUS

Professor Whitson Ribeiro da Rocha

 

DEFINIÇÃO

A palavra revelação vem do termo grego apokalipsis que tem o sentido de “tirar o véu, desencobrir, mostrar”.
Revelação é, portanto, a atitude de Deus de se mostrar ao homem como ele é e seus atos salvadores, bem como sua interpretação. Deus se revela ao homem e por isto podemos conhecê-lo.

 A REVELAÇÃO NA HISTÓRIA

As religiões politeístas da época de Israel fixavam-se na natureza por causa do ciclo anual e por isso desenvolveram uma visão cíclica de mundo e da história a partir da natureza. Tudo começa e recomeça sempre.
Israel fixa-se na história, e não na natureza, como a esfera fundamental da revelação de Deus. Israel adotará uma visão linear, e não cíclica, da história.

O maior ato revelatório de Deus no AT, e aquele que inicia o processo de revelação de Deus ao povo de Israel, é o êxodo, ou seja, a libertação da escravidão egípcia (Ex 19.4). A partir do êxodo Deus é conhecido (Ex 6.6,7; Sl 78.4-7; Os 11.1,4). O povo de Israel faz a recitação deste momento como o evento gerador do povo (Dt 26.5-9; 6.20-24). No êxodo o pacto é feito (Ex 19.5,6) e este é um pacto perpetuo entre Deus e seu povo.
Na história de Israel Deus se revelou de forma pessoal. Escolheu a Abraão (Gn 12.1-3) e fala a Moisés (Ex 3.13-15), Davi (II Sm 7.20-24) e aos profetas (Jr 7.25). O ateísmo consiste não em negar a Deus, mas em negar os seus atos (Sl 14.1; Jr 5.12).
A revelação especial envolve eventos históricos únicos relacionados à libertação divina os quais encontram seu clímax na encarnação, expiação e morte de Jesus Cristo. Em toda a história da revelação de Deus a presença e obra de Jesus Cristo é o supremo desvendamento da sua vontade. Todo o NT é a recitação dos atos de Deus em Cristo (I Co 15.3,4; Jo 3.16; Rm 5.8; Hb 1.1,2). Toda a Bíblia gira em torno da vida histórica de Jesus de Nazaré (o AT Rm 16.25,26; os evangelhos, o livro de Atos At 1.1, as epístolas e o Apocalipse Ap 1.1).

O evento revelatório pode ser natural (ex.: o cativeiro babilônico), mas geralmente tem um caráter sobrenatural mostrando mais claramente a ação de Deus na história.
Neste sentido, a história é interpretada pela palavra de Deus. Veja estes exemplos:
1) Rm 5.8        Jesus morreu na cruz (ato histórico)      ®     o amor de Deus por nós (interpretação)
2) Rm 4.25      Jesus foi entregue/morto (ato histórico) ®  por nossos pecados (interpretação)
                        Jesus foi ressuscitado (ato histórico) ®   para nossa justificação (interpretação)
Os eventos históricos são revelatórios somente quando são acompanhados pela palavra revelatória. O ato-palavra se constitui revelação.
Dialeticamente, a palavra também cria o ato histórico. Exemplos: a palavra cria (Gn 1.3), o evento do êxodo predito (Gn 15.13,14), a palavra profética (Dt 18.22), a morte do povo no deserto (Nm 14.35), acerca do Messias sofredor (Is 53), queda de Jerusalém (Mc 13.2), a morte e ressurreição (Mc 8.31).
Deus se revelou na história de Israel, em Jesus Cristo e na sua Igreja. Deus se revelou através do ato-palavra e da palavra-ato.


  A REVELAÇÃO PROGRESSIVA DE DEUS

Deus vai se revelando progressivamente no AT.
Pouco se conhece de Deus no período anterior a Abraão.
Deus escolhe e revela-se de forma pessoal a Abraão e seus descendentes (Gn 12.1-3). Através de Abraão Deus se revelará ao mundo (Gn 12.3).
Esta revelação progride com Moisés:
-          Deus revela seu nome: YAHWEH (transliterado: Jeová)  “eu sou o que sou” (Ex 3.14,15);
-          Deus cria seu povo (Ex 19.5,6);
-          Deus dá sua lei (Ex 20.1ss);
-          Deus se revela de forma portentosa (Ex 15.11,14; Js 2.9,11).
Há progressão em Davi e nos escritos poéticos quando enfatizam o caráter de Deus tais como suas misericórdias, seu amor pelo seu povo, sua benignidade, etc. (Sl 106; 116) e também por enfatizar o “temor do Senhor” como princípio de vida (Pv 1.7; ).
No AT a maior revelação de Deus se dá nos profetas (Jr 7.25; Am 3.7,8). Por que?
-          eles enfatizam o caráter de Deus (Jr 31.3; Os 11.4);
-          eles mostram um Deus ético (Mq 6.8; Is 1.16,17);
-          eles revelam o plano de Deus na história (Is 42.5-8).

A maior revelação de Deus é Jesus Cristo:
-          ele é o Deus-Homem (Jo 1.1,14);
-          ele é o revelador do Pai (Jo 1.17,18; Mt 11.27)
-          Jesus é o auge da revelação de Deus (Hb 1.1,2): a revelação terminou em Jesus.
Todo o NT gira em torno de Jesus Cristo: é a reflexão acerca dele. O AT aponta para ele.
No NT, o apóstolo Paulo é quem mais se aprofunda na reflexão sobre Jesus:
-          sua reflexão é revelação pois é guiada pelo Espírito Santo (I Co 2.12,13);
-          os outros apóstolos reconhecem isto (II Pd 3.15,16);
-          agora, com a presença de Jesus, é possível desvendar os mistérios de Deus (I Co 2.7,10; Ef 1.9; 3.3,8,9);
-          sua reflexão é sempre dependente da vida e do ensino do Senhor (I Co 2.2; Gl 1.11,12).
No evento Jesus, Deus se mostra como é. É possível conhecê-lo. Deus não revela mais nada sobre si além do que revelou-se em Jesus Cristo.

Deus se revela sempre dentro da cultura do homem. Por isso algumas palavras de Deus estão condicionadas ao tempo e ao espaço. Exemplo: a lei de Moisés, costumes ordenados, etc.
Neste aspecto, conforme a progressão na revelação, o antigo costume ordenado perde sua força: -    o castigo dos pais nos filhos:  Ex 13.15  Þ  Dt 24.16  Ez 18.2,4
-          a lei de Moisés:  Dt 27.1  Þ  Gl 3.24,25  Hb 8.6,7,13  Jo 1.17
-          costumes do NT:  I Co 11.2-16   I Co 14.34,35   I Tm 2.11,12
Existe uma relação dialética desde o início até o fim da revelação bíblica. Porém, há uma progressão na revelação para princípios mais espirituais, válidos em toda cultura.

REVELAÇÃO GERAL E ESPECIAL

Revelação geral é aquela dada por Deus a toda a humanidade em todos os tempos através da criação, ou seja, a natureza (Sl 8.1; 19.1-6; At 17.26-28; Rm 2.14,15).
Nesta revelação pode-se conhecer algo de Deus, mas muito pouco (Rm 1.19). O que se pode conhecer: poder e divindade de Deus (Rm 1.20). Mesmo este conhecimento é deturpado pelo fato do homem ser pecador (Rm 1.21,23).
A revelação geral não salva. Deve ser o início da inquirição, da busca pelo verdadeiro Deus poderoso e divino.
Revelação especial é aquela dada por Deus através da Bíblia.
Nesta revelação podemos conhecer tudo o que Deus quer revelar a nós (Sl 19.7-14; I Co 2.12,13).
Esta revelação mostra quem Deus é na sua integralidade (Is 40.12-31; 41.4; I Jo 1.5; 4.8), assim como sua obra (Ef 3.9,10).
Esta revelação é a única que revela Jesus Cristo (Jo 5.39; Lc 24.27). Por isso é a revelação bíblica que pode salvar (II Tm 1.13,14; 3.15).

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