A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS PERDIDOS (1ª Parte)
DA BOA VIDA COM O PAI À MISÉRIA
Jesus está sendo
criticado pelos líderes fariseus porque ele comia com “gente de baixa
reputação” e era amigo dos “pecadores”. Os críticos fariseus consideravam-se
muito santos e superiores aos demais homens e, de forma alguma, se juntariam
com pecadores. Ele conta três parábolas para explicar seu comportamento: a da
ovelha perdida, a da moeda perdida e esta que dei o título “a parábola dos dois
filhos perdidos”, mas que é mais conhecida como “a parábola do filho pródigo”
(Lucas 15.11-32). Vamos analisá-la em três partes. Esta primeira parte diz
respeito ao filho mais novo, que vai da boa vida com o pai à miséria porque fez
suas escolhas. O texto é Lucas 15.11-20a.
“Jesus
continuou: um homem tinha dois filhos” (v. 11). Pelo contexto, percebemos que o
homem é um fazendeiro, tinha muitos assalariados que trabalhavam para ele e
seus dois filhos também trabalhavam em seu campo. Como era comum naquela época,
os filhos só herdariam as terras de seu pai quando ele morresse. Era obrigação
dos filhos cuidar do pai na velhice e fazer seu enterro. Mesmo tendo muita
terra, o pai mora numa comunidade. Um dia desses, “o mais novo disse ao seu
pai: ‘pai, quero a minha parte da herança’” (v. 12). Este filho está rejeitando
sua filiação ao pai e, implicitamente, está desejando a morte do pai. Para a época,
era um absurdo o que este rapaz estava pedindo. Mais absurda ainda é a atitude
do pai: “assim, ele repartiu sua propriedade entre eles” (v. 12). O que se
esperava do pai, ao ouvir tão insolente pedido, era que desse uma surra no
filho e o mandasse trabalhar. E olhe lá se não ia perder sua parte na futura
herança. Mas o pai aceita o pedido e faz a divisão formal entre os dois filhos.
Aqui começamos a fazer a relação entre este pai da parábola e Deus: ele nos
deixa ir embora e pecar, mesmo com uma dor muito grande em seu coração. Deus
não impõe seu querer sobre ninguém; ele não nos controla a ponto de forçar a
nossa vontade.
“Não muito tempo
depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, e foi para uma região
distante; e lá desperdiçou os seus bens, vivendo irresponsavelmente” (v. 13). Num
lugar onde se gastava meses para uma negociação, este filho vendeu rapidamente
a sua parte da herança. Arrecadou muito dinheiro e sonhou com a liberdade e o
total rompimento com seu pai, indo para um país distante. Ali viveu por um
tempo, na “gandaia”, sem nenhuma restrição. Dissipou irresponsavelmente os bens
que havia tirado de seu pai. Veja o que aconteceu: “depois de ter gasto tudo,
houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade”
(v. 14). Gastou sem trabalhar e desperdiçou tudo e, para piorar sua situação,
uma calamidade se abateu naquele país: uma grande fome. Sem dinheiro,
estrangeiro e sem emprego, começa a passar necessidade: é quando a realidade da
vida começa a bater na porta. Outra lição de Jesus: somos livres para abandonar
Deus e seus mandamentos, mas teremos que nos preparar para sofrer as consequências
desta decisão, e elas não serão boas. “Por isso foi empregar-se com um dos
cidadãos daquela região, que o mandou para seu campo a fim de cuidar de porcos”
(v. 15). O porco era um animal proibido para um judeu criar ou comer sua carne,
pois era considerado um animal imundo pela lei de Moisés. Fora de Israel, o
porco era criado e comercializado normalmente. Este jovem desce socialmente e
percebe que sua liberdade acabou de forma degradante: sendo judeu, ia cuidar de
porcos. “Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que os
porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada” (v. 16). A pouca comida que conseguia
não o satisfazia. Ele era estrangeiro e ninguém lhe dava nada. Ele estava
emagrecendo e morrendo de fome aos poucos.
Quando chega ao
fundo do poço, atormentado pela fome constante, “caindo em si, ele disse: ‘quantos
empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome!’” (v.
17). Ele começa a raciocinar para tentar sair de sua horrível situação: os
trabalhadores assalariados de seu pai tinham abundância de pão e ele morrendo
de fome. “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: ‘pai,
pequei contra o céu e contra ti’” (v. 18). Ele decide fazer o longo caminho da
volta para a casa de seu pai e já ensaiou seu discurso. Ele dirá ao pai que
pecou. Primeiro contra Deus, porque desobedeceu o quinto mandamento da lei de
Moisés que manda honrar pai e mãe; e em segundo lugar, pecou contra o pai
porque gastou o dinheiro que deveria usar para cuidar do pai na velhice e fazer
o seu enterro. O filho mais novo admite que é pecador. “Não sou mais digno de
ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados” (v. 19). Este
jovem sabe que não terá mais nenhum direito legal ao que é do pai e por isso
não quer ser tratado como filho. Para ele, basta ser tratado como empregado,
pois poderá ter uma vida confortável. Veja bem, este filho não está interessado
no pai e sim em sua subsistência. No final das contas, ele apenas quer sair do
estado de inanição para a abundância de pão. Um bom negócio. “A seguir,
levantou-se e foi para seu pai” (v. 20a). Coloca seu plano em marcha.
Há pessoas que,
fugindo de Deus, praticam coisas erradas, chamando a isto de “liberdade”. A vida
se encarrega de mostrar as consequências deste tipo de liberdade. No entanto, é
Deus quem dá liberdade a elas até para que façam suas escolhas erradas. O único
jeito de começar a sair desta teia de aranha que construíram para si mesmos é
se ver no fundo do poço, “morrendo de fome”, afirmar sua completa
pecaminosidade e pôr-se a caminho para voltar para o Senhor Deus. É este o seu
caso?
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