A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS PERDIDOS (3ª Parte)
O FILHO MAIS VELHO TAMBÉM PERDIDO
Na primeira
parte da parábola do filho pródigo, como é mais conhecida, o filho mais novo de
um fazendeiro pede sua parte da herança com o propósito de vendê-la e
“aproveitar a vida”. Implicitamente, ele estava desejando a morte de seu pai.
Surpreendentemente, o pai lhe concede. Ele parte para um país distante,
desperdiça tudo e começa a passar fome. Ele resolve voltar para a casa de seu
pai a fim de oferecer-se como trabalhador, pois sabe que não é mais filho e nem
tem direitos. Lá chegando, o pai assume sua humilhação e o restabelece como
filho. Ele reconhece que não tem este direito, mas recebe a misericordiosa
graça de seu pai. Agora, Jesus nos conta sobre o filho mais velho em Lucas 15.25-32.
“Enquanto isso,
o filho mais velho estava no campo. Quando se aproximou de casa, ouviu a música
e a dança. Então chamou um dos servos e perguntou-lhe o que estava acontecendo”
(v. 25-26). O filho mais velho estava trabalhando, como fazia sempre. Ao final
de sua jornada de trabalho, ao se aproximar da casa, percebeu que havia sons de
festa e danças. Se o filho tivesse um bom relacionamento com o pai, sem
perguntar nada, ele entraria em casa já com espírito alegre e perguntaria sobre
o motivo da festa. Afinal, se seu pai estava dando uma festa, só podia ser por
um motivo bom. No entanto, este filho mais velho fica do lado de fora. Jesus
começa a mostrar que há problemas na relação pai-filho mais velho. No v. 26, a
tradução da NVI está errada. Diz que ele perguntou a um servo; na verdade, foi
a um “paidion”, que significa “criança”.
Naquela época, as crianças ficavam do lado de fora da festa. Ouça o que o
menino disse-lhe: “este lhe respondeu: ‘seu irmão voltou, e seu pai matou o
novilho gordo, porque o recebeu de volta, são e salvo’” (v. 27). O menino dá as
informações sucintas e corretas: o seu irmão chegou, o seu irmão estava são,
seu pai o recebeu e matou o novilho gordo. Toda a comunidade sabia do
acontecido e estava na festa.
“O filho mais
velho encheu-se de ira, e não quis entrar. Então seu pai saiu e insistiu com ele”
(v. 28). Quando o filho mais novo voltou, o pai foi tomado de “entranhável
compaixão” (v.20); quando sabe da notícia, o filho mais velho é tomado de “profunda
ira”. Veja a diferença de sentimentos entre o pai e o filho mais velho. Então,
ele tomou uma decisão: não ia participar desta festa. Preciso dar uma
explicação contextual: naquela época, a decisão de um patriarca (como era o pai
desta parábola) tinha uma validade total. Os filhos tinham de assumir
publicamente a decisão do pai, quer gostassem quer não. Não assumi-la seria um
gravíssimo desrespeito e o filho seria castigado com certeza. Se o filho não
gostasse da decisão do pai, posteriormente, com todo respeito, poderia
conversar com ele. Mas o que acontece nesta estória? O filho se recusa a entrar
e desrespeita seu pai diante de toda a comunidade. Ele está com tanta raiva de
seu pai por ter dado uma festa para a volta do irmão mais novo, que resolveu
insultar o pai, não participando da festa. Naquela cultura, o que o pai deveria
fazer? Usar de sua autoridade e obrigar o filho a entrar à força e ainda
dar-lhe um castigo público pelo desrespeito a uma decisão sua. O que faz o pai
da parábola de Jesus? Como fizera com o filho mais novo, novamente este pai se
humilha perante a comunidade para buscar o filho mais velho. Ele saiu da festa
e rogou (a tradução “insistiu” não é a melhor) a seu filho que entrasse. Que pai incrível é este! Ele se humilha,
correndo, para assumir a vergonha do filho mais novo (v. 20) e agora, ao sair
da casa, assume o insulto do filho mais velho. Que grande figura de Deus que,
em Jesus Cristo na cruz, se humilhou e assumiu tudo o que era de vergonha,
insulto e pecado contra ele que a humanidade praticou para poder salvá-la. Glória
e honra ao Deus Eterno e a seu amado Filho, o Senhor Jesus Cristo, autores de
nossa salvação!
“Mas ele
respondeu a seu pai: ‘Olha! Todos esses anos tenho trabalhado como um escravo
ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um
cabrito para eu festejar com meus amigos’” (v. 29). No diálogo com o pai, o
filho mais velho revela que, à semelhança do filho mais novo, ele também está
perdido. Veja a expressão: “tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço”.
Aquele jovem não se sentia filho de seu pai, antes se considerava um escravo. Para
ele, seu pai não era pai, era chefe. Tanto isto era verdade para ele, que não
tinha desobedecido nem uma ordem do pai. Filhos que amam seus pais, quando se
lembram deles, carregam na mente os momentos de ternura, afagos e amizade com
os pais. Este filho da parábola só se lembra das ordens. Segundo ele, o pai-chefe
nunca deu um cabrito para ele festejar com os amigos. Novamente, ele expressa a
distância entre ele e seu pai. Ele tem a certeza de que o pai não dará um só
cabrito para ele. O filho mais velho também deseja a morte de seu pai para por
as mãos em todos os bens dele. A autoestima deste jovem era baixíssima. E mais:
a alegria dele era estar com seus amigos, da qual sua família não fazia parte. O
que significa esta fala: o filho mais velho está muito longe de seu pai, em uma
terra distante, só que dentro dele. Ele não se considera filho. Então ele
termina sua fala dizendo: “mas quando volta para casa este teu filho, que
esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele!” (v.
30). Agora ele acusa a relação do pai com o filho mais novo que voltou. A
expressão “este teu filho” é dita com absoluto desprezo. Ele deveria ter dito: “este
meu irmão”. Ele afirma que o mais novo esbanjou os bens do pai com prostitutas.
Dois erros do filho mais velho: o filho mais novo esbanjou os bens dele, pois o
pai já havia feito a divisão e como ele sabia que o gasto foi com prostitutas
se não há nenhuma informação na parábola que fosse neste sentido? Puro
preconceito do filho mais velho. Finalmente, ele diz que bastou o filho mais
novo vir, para o pai matar o melhor novilho da criação. O que o filho mais
velho está dizendo a seu pai é: “é totalmente injusta a relação eu-tu e tu-ele
(filho mais novo); eu e ele somos muito diferentes. Ele não dá valor a teus
mandamentos e eu me esforço por obedecê-los todos, mas tu valorizas mais ele do
que eu”. Esta parábola foi contada porque os fariseus (os que achavam que cumpriam
todos os mandamentos de Deus) disseram acerca de Jesus que “este recebe pecadores
e come com eles” (v. 2). O filho mais velho representava a atitude dos fariseus.
O filho mais velho representa também todos os religiosos que procuram obedecer às
ordenanças morais de sua religião e não se conformam que Deus salve um bandido,
assassino e estuprador que, na última hora de sua vida, sinceramente se
arrependa de seus pecados e implore pela salvação de Cristo. Para esta gente, o
ladrão na cruz não era ladrão de verdade.
“Disse o pai: ‘meu
filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas nós tínhamos que
celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morte o voltou
à vida, estava perdido e foi achado’” (v. 31-32). Este maravilhoso pai vai
fazer a tentativa de recuperar seu segundo filho perdido. Inicialmente, chama-o
de “meu filho”. Para o pai, ele nunca foi escravo, mas sua condição sempre foi
a de filho. Em segundo lugar, o pai está dizendo: “tu estás ligado totalmente a
mim e tudo o que é meu é teu; todos os meus rebanhos (e não apenas um cabrito)
são teus. Você pode dispô-los como bem entender”. O pai lembra-lhe que a
divisão dos bens já foi feita e tudo que pertence ao pai é apenas do filho mais
velho. O pai está dizendo: “para mim, tu estás aqui como filho. Assuma teu lugar!
Eu não te aceito pelo trabalho que tu fazes e sim pelo fato de tu seres meu
filho como o outro”. Em relação ao “seu irmão” que voltou, o pai diz que era
necessário alegrar-se porque estava morto e reviveu, perdido e foi achado. Os dois
são filhos, não pelas atitudes, mas por geração. Para Deus, nenhum
arrependimento passa despercebido. Para Deus, só alegria e festa quando um
pecador volta para ele.
A parábola de
Jesus fica inacabada. Nós não ficamos sabendo se o filho mais velho aceitou os
rogos do seu pai e entrou na casa para festejar a volta do seu irmão ou ficou
irredutível no seu ódio e na sua condição de escravo do pai. Sabe por que,
leitor, a parábola ficou inacabada? Porque Jesus quer que você complete a estória
com a sua vida! Nós somos tanto o filho mais novo quanto o mais velho. Estamos
perdidos perante Deus por causa de nossos pecados. Mas este Deus, cheio de
compaixão, veio a nós em vergonha e dor morrendo na cruz de Jesus Cristo. Ali
ele pagou a culpa de nosso pecado e agora chama-nos ao arrependimento, para que
voltemos de vez para sua casa. Quando alguém se arrepende e volta-se para Deus
por intermédio de Jesus Cristo, o Pai celestial faz uma festa eterna e trata-o
como filho amado. Qual o final que você dará a esta estória que Jesus contou?
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