O RICO E LÁZARO (1ª Parte)
AS POSIÇÕES INVERTIDAS NA MORTE
O texto de Lucas
16.19-31 que nos fala do rico e Lázaro é outro texto difícil de interpretar do
evangelho de Lucas. Esta dificuldade ocorre em dois sentidos. O primeiro é
definir se trata-se de uma parábola (estória inventada) de Jesus ou se ele fala
de um fato real. Isto é assim porque, se fosse parábola, seria a única vez que
um personagem recebe um nome: Lázaro. O outro sentido é que, à primeira vista,
parece que Jesus ensina que os ricos serão condenados e os pobres salvos, só
por este motivo. Isto Jesus não ensinou em nenhum outro lugar. Por ser longa,
dividi a parábola em duas partes. A primeira encontra-se em Lucas 16.19-26.
Jesus começa
esta narrativa assim: “Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho
fino e vivia no luxo todos os dias” (v. 19). Estamos diante de um homem muito
rico: suas roupas demonstram isto, sua casa com portão e diante do fato de que
suas refeições diárias eram verdadeiros banquetes. Ele usufruía plenamente de
sua riqueza. Certamente, era respeitado pela sua comunidade e devia ser
religioso. No entanto, pelas palavras que Jesus diz, aquele homem rico vivia
exclusivamente para si. Tudo era para ele, tudo girava em torno dele. Ele podia
tudo porque era muito rico. Por outro lado: “Diante do seu portão fora deixado
um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caia da
mesa do rico. Até os cães vinham lamber suas feridas” (v. 20-21). Seu nome era
Lázaro (na língua grega, que equivalia ao hebraico Eleazar e que significa
“Deus é meu socorro”). Ele era mendigo, o que significava que não possui
absolutamente nada, com exceção dos andrajos com que se vestia. Ou era aleijado
ou a doença não lhe permitia mais andar porque fora deixado ali. Estava com
muitas úlceras por todo o corpo, o que indica que tinha muitas doenças. Com
certeza fedia, pois até os cães vinham lamber suas feridas e ele não tinha
forças para repeli-los. Desejava muito comer os restos da mesa daquele homem
rico, mas a comida, muitas vezes, não chegava até ele. Estamos diante de alguém
no mais baixo grau de dignidade humana. Ele é um sofredor solitário da vida,
mas Lázaro tinha a Deus como seu socorro. Aquele homem riquíssimo ignora
completamente o mendigo em seu portão, pois nem a sobra dá. Você não acha que
ele podia construir uma casinha para Lázaro e alimentá-lo diariamente?
Providenciar um médico? Estas coisas fariam alguma diferença em sua riqueza? O
rico não enxergava ninguém, senão a ele próprio.
“Chegou o dia em
que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também
morreu e foi sepultado” (v. 22). Vamos entender este versículo em seu contexto
judaico no qual Jesus está contando. O entendimento judaico via o mundo
composto de três andares: o andar superior era o céu onde habitavam Deus e os
anjos; o andar do meio era o da Terra, onde habitavam os vivos; e o andar
inferior era chamado “Sheol” em
hebraico ou “Hades” em grego, e era
onde estavam os mortos. Este Sheol/Hades
era dividido em duas partes: a dos justos e a dos ímpios. Quando o Reino de
Deus (entendido de uma forma terrena) começasse em Israel, todos os justos
ressuscitariam para participar do Reino e este início seria marcado com um
banquete que teria como personagens principais Abraão, Isaque e Jacó, os pais
da nação. Jesus aqui está falando acerca da morte, do Hades. O mendigo Lázaro é levado pelos anjos, em sua morte, até
esta mesa do banquete na qual o principal é Abraão. Ocorre que Lázaro é
colocado no lugar de maior honra, pois ele está à direita do anfitrião, ou
seja, “no seio de Abraão”. O rico morre e deve ter sido sepultado com muitas
honras pela sua comunidade, mas ele não vai para o mesmo lugar de Lázaro. Este
versículo nos ensina que a morte é democrática: ela vem para todos. Alguns
parecem ser muito importantes neste mundo, mas todos somos pó. Prezado leitor:
um dia a morte também vai alcançar-lhe. Neste dia, o que vai valer é saber se
você viveu só para si e para seus prazeres ou se você fez de Deus o seu
socorro. Isto vai fazer toda a diferença na eternidade.
No Hades, as posições foram invertidas
entre o rico e Lázaro: “No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para
cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Então chamou-o: ‘Pai
Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na
água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo’” (v.
23-24). No Hades, ou seja, na morte,
o rico está em tormentos e eles estão só começando, justo ele que nunca
enfrentou sofrimento em sua vida. Seus olhos, antes altivos e arrogantes, agora
olham para baixo. Ao olhar para cima, vê Abraão e Lázaro junto dele, em lugar
de honra. O mendigo deixado no portão da casa de outros, agora é honrado por
Abraão. O que fora um homem doente, agora está plenamente bem. O rico grita
pelo pai Abraão e clama por misericórdia, pois seu sofrimento é muito grande. Ainda
pensa que pode comandar, pois quer que Lázaro traga um pouco de água para
aplacar sua dor. O homem que bebia dos melhores vinhos em festas suntuosas,
agora clama por algumas gotas d’água. O mendigo que tinha úlceras agora pode
molhar a ponta de seus dedos e espargir sobre a boca dele. O rico sofre porque
há fogo a lhe impor dor. “Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se que durante a
sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más.
Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento. E, além
disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam
passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem’”
(v. 25-26). Por parte de Abraão há compaixão, pois o chama de filho, mas também
verdade, pois não pode atendê-lo. Abraão o lembra de como ele viveu na terra, o
que significa que carregamos nossas lembranças depois da morte. Se alguém
sofrer, saberá o porque está sofrendo e se alguém for salvo, saberá que está
ali por causa da graça de Deus. Abraão diz que, em vida, o rico recebeu só
coisas boas. Tudo que o homem tem vem de Deus como bênção, mas o homem pode
pegar a bênção e usar de um modo egoísta. Lázaro só recebeu coisas ruins. Tudo
se inverteu: Lázaro é consolado e o rico padece em sofrimento. Pergunto a você
leitor: diante desta palavra de Jesus, onde fica a teologia da prosperidade,
que ensina que prosperidade material sempre é bênção de Deus, ao passo que diz
que penúria e doenças significam que o homem não crê em Deus para ser curado e
enriquecer? E mais: que adianta riquezas e curas físicas se depois da morte o
sujeito vai viver em sofrimento eterno? Acorda, povo de Deus: o que importa é
servir a Jesus Cristo em humildade de vida e não esta procura desenfreada por
riquezas e curas. Abraão ainda diz ao rico que há um abismo intransponível
depois da morte entre os dois grupos. Não existe mudança de perdição para
salvação depois que alguém morre. A decisão é enquanto estamos vivos. Creia em
Cristo agora e viva.
Para você que
tem uma vida próspera: o que você vai fazer com sua prosperidade? Que lugar ela
ocupa na sua relação com Deus? Como você vai ajudar seu próximo? Para você que
não é próspero, mas pobre: faça de Deus o seu socorro e confie somente nele. Não
se deixe iludir por pastores que ficam prometendo riquezas e saúde para você.
Confie em Deus.
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