AGORA, A PREGAÇÃO DO EVANGELHO ALCANÇA SEU POVO
O texto de Lucas 16.16-18 é um dos mais difíceis
de interpretar do evangelho de Lucas. Este texto traz o entendimento de Jesus
sobre o Antigo Testamento e seu tempo. Na época de Jesus, a lei e os profetas
(para nós envolve todo o Antigo Testamento) eram revelação de Deus para seu
povo Israel. A lei de Moisés (contida nos cinco primeiros livros) era o ápice
da revelação e ao qual deviam obediência total. Jesus vai mostrar que surgiu
uma força maior que todo o Antigo Testamento: o seu Evangelho, que vai libertar
os homens.
Jesus está
ensinando aos seus discípulos e também aos fariseus (“cumpridores” da lei de
Moisés e que não gostavam de Jesus). Ele diz: “A lei e os profetas vigoraram
até João (Batista); desde então é anunciado o evangelho do reino de Deus, e
todo homem forceja por entrar nele” (v. 16). A lei e os profetas são uma
referência a toda a revelação de Deus no Antigo Testamento. Jesus estende esta
revelação até João Batista, seu contemporâneo. Mas, para Jesus, embora a
revelação do Antigo Testamente chegue até João, ela terminou nele, pois algo
novo começou. Quem vem após João Batista? Ele mesmo, Jesus Cristo! O que ele
inaugura? O Reino de Deus! O que é este Reino? O domínio de Deus na vida de uma
pessoa e também na humanidade e no cosmos. Como Jesus traz o Reino para nós? Pela
pregação do seu evangelho. Posso resumir este evangelho do Reino assim: “Jesus
Cristo, sendo Deus, tornou-se também homem para que, vivendo entre nós, morrer
numa cruz. Este sacrifício é expiatório, pois pagou a nossa dívida de pecados
perante Deus. Quem receber Jesus pela fé como Senhor e Salvador, é justificado
(não tem mais condenação e nem culpa) e recebe a nova vida que o capacita a
santificar-se”. Leitor, se ainda não o fez, receba pela fé a Cristo como seu
salvador fazendo uma oração e pedindo para ele ser o dono da sua vida. Ainda no
v. 16, a última frase é difícil de interpretar: “e todo homem forceja por
entrar nele (o Reino de Deus)”. No texto grego (original), o verbo é “biazetai” que significa “forçar, agir
usando a força”. Este verbo pode estar na voz ativa reflexiva: “todo homem
força (para si) para entrar nele” ou na voz passiva: “todo homem é forçado a entrar
nele”. Eu prefiro a tradução na voz passiva, porque o verbo “é anunciado” do
verso anterior também está na voz passiva. A expressão “todo homem” significa
aquele que entra no Reino, já que a grande maioria não tem interesse em fazer
isto. O que isto significaria então? O homem natural (sem Cristo) não consegue,
por si só, entrar no Reino porque ele tem várias amarras que o impedem tais
como o poder do Diabo, a pressão do mundo e sua própria natureza carnal. É a
pregação do evangelho que vai forçá-lo a entrar quando “desamarra” estas
amarras. A pregação do evangelho alcança o povo do Reino e o liberta para a
nova vida! Glória a Deus!
Os v. 17 e 18
dizem: “É porém mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei. (18)
Todo aquele que repudia sua mulher e casa com outra, comete adultério; e quem
casa com a que foi repudiada pelo marido, também comete adultério”. No v. 17,
Jesus está dizendo que a lei de Moisés permanece como revelação de Deus,
especialmente em seu contexto de Antigo Testamento. Tudo na lei tem seu lugar e
sua revelação não vai cair nunca como demonstração da vontade de Deus num determinado
período de sua revelação progressiva. Porém, como poder de Deus para
transformar as pessoas, seu poder e eficácia já passaram (v.16). Nesta era do
Reino de Deus, o que a lei faz é apontar para Cristo como nosso salvador: “Pois
Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê” (Romanos 10.4).
O Evangelho de
Jesus é que vai mudar a mentalidade do homem para compreender a revelação do
Antigo Testamento de um modo diferente do que os próprios judeus entendiam.
Jesus dá o exemplo do divórcio no v. 18. A lei de Moisés dava provisão ao
divórcio: “Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, se ela não
achar graça a seus olhos, por haver ele encontrado nela coisa vergonhosa,
far-lhe-á uma carta de divórcio e lhe dará na mão, e a despedirá de sua casa”
(Deuteronômio 24.1). Alguns estudiosos judeus achavam que essa “coisa
vergonhosa” podia ser qualquer coisa que o marido desgostasse, até uma comida
queimada. Aí está a lei. No Evangelho, a família é valorizada a tal ponto que
não se pensa em divórcio como possibilidade num casamento: daí a palavra de
Jesus da nova relação de casamento após o divórcio como o pecado do adultério.
No entanto, precisamos ser prudentes aqui para não dizermos que Jesus ensina um
legalismo mais forte que o dos fariseus: ele está dando um exemplo referente
aos v. 16 e 17. No Evangelho de Jesus, há abertura para o divórcio (veja o que
Jesus diz em Mateus 5.31-32 e Paulo em 1ª Coríntios 7.15). Por um lado, pessoas
que se divorciam pelo simples desejo de viver outra paixão (é isso que ensinam as
novelas da TV brasileira), pecam contra Deus e sua família. Por outro lado, o
Evangelho vai me ensinar a amar meu cônjuge, mesmo com todas as dificuldades
que o relacionamento conjugal traz, para viver sempre com ele.
Toda a revelação
do Antigo Testamento foi uma preparação para a excelência da revelação que
Jesus trouxe quando veio a este mundo: “Porque a lei foi dada por meio de
Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (João 1.17). É por
isto que, como cristãos, não seguimos os mandamentos específicos do Antigo
Testamento, mas, através dos ensinamentos de Cristo, nós o reinterpretamos e,
desta forma, honramos aquela revelação. Vivemos na maravilhosa época do
evangelho do Senhor Jesus que nos alcançou com sua graça e verdade. Bendito
eternamente seja nosso Senhor!
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