O SERMÃO
ESCATOLÓGICO DE JESUS (1ª Parte)
O ETERNO E O
PASSAGEIRO
Os povos antigos
olhavam a realidade como um eterno círculo onde tudo terminava mas voltava a
acontecer. Tinham esta visão porque se concentravam na natureza com seus
constantes círculos de vida/morte, plantar/colher, verão/inverno: tudo sempre
se repetia. O povo de Israel no Antigo Testamento tinha uma visão diferente da
realidade. Eles presenciaram os grandes atos salvadores de Deus, tais como a
escolha de Abraão, a constituição da família de Jacó em doze tribos, a
libertação da morte por fome no tempo de José, a grande libertação do cativeiro
egípcio no Êxodo, a conquista da terra prometida, etc. Ao ver tudo isto, o povo
de Israel vê a realidade como uma linha contínua no tempo em que há início,
meio e fim. Ao invés de concentrar-se na natureza, Israel concentrou-se na
história: Deus dirige a história para um fim determinado. A ideia da história
chegar a um fim fez surgir muitos profetas apocalípticos, ou seja, que falavam
sobre os fins dos tempos. No AT, temos Daniel e Zacarias e outros em menor
grau. No Novo Testamento, Jesus, que também é profeta, deixa registrado em
Lucas 21.5-38, o seu sermão escatológico, que também se encontra nos outros
evangelhos sinóticos com pequenas diferenças. Como o sermão é longo, vamos
estudá-lo por partes, começando por Lucas
21.5-8.
Uma característica
de toda profecia apocalíptica feita pelos profetas judeus dos tempos bíblicos
(e Jesus está incluído aí) é que, na profecia, eles misturam acontecimentos
próximos de seus ouvintes no tempo e acontecimentos muito distantes no tempo. É
como se uma pessoa estivesse, de longe, observando dois montes. Ele vê apenas
os picos dos montes e pensa que eles estão perto um do outro. O que ele não
percebe é que há um grande vale a separá-los e, na realidade, eles estão
distantes. A profecia de Jesus é sobre dois eventos: a destruição do templo de
Jerusalém (evento perto) e a sua segunda vinda (evento longe). O sermão mistura
os dois eventos e vamos ter de separá-los na análise que vamos fazer. Mas, por
que Jesus mistura os dois eventos? Porque as condições em que o primeiro evento
(evento perto – destruição do templo de Jerusalém) acontece, são muito
parecidas com as condições em que se dará o segundo evento (evento longe - a
segunda vinda de Jesus). Você, leitor, deve ter isto em mente em todos os
estudos que fizermos em Lucas 21.
Vamos lá. “Alguns homens falavam sobre o templo, como estava ornamentado
com pedras bonitas e doações; e ele lhes disse” (v. 5). O templo do rei
Herodes era uma construção magnífica, soberba, imponente. Seu tamanho total era
equivalente a 25 campos de futebol. A altura total da torre do templo equivalia
a um prédio de 10 andares hoje. O templo foi construído com enormes blocos de
mármore branco e, de longe, parecia um monte coberto de neve, segundo Josefo,
historiador judeu do século I. Muitas de suas paredes eram revestidas de ouro e
brilhavam ao sol. Haviam também ornamentos muito caros em toda a extensão
daquele santuário. O templo era tão grande e majestoso que parecia ser eterno.
Para o povo de Israel da época de Jesus, o templo era seu orgulho e sua glória.
Por causa disto, alguns homens comentaram com Jesus acerca da beleza e
imponência do templo. O homem tem a sensação de que o que ele constrói vai
durar para sempre: sua casa, os grandes edifícios, as grandes obras de
arquitetura, seus modelos econômicos, suas ideologias, seus impérios, seus
governos, etc.
“Chegarão dias em que, disso que vedes aqui, não ficará pedra
sobre pedra que não seja derrubada” (v. 6). Enquanto eles olhavam a
magnífica obra, Jesus profetiza que o tempo chegaria em que não ficaria pedra
sobre pedra. Jesus vê um quadro horrendo, onde tudo viria abaixo, destruído. Cerca
de 40 anos depois, em 70 d.C., o general romano Tito impôs um terrível cerco a
Jerusalém com seus exércitos. Ele venceu a resistência, entrou em Jerusalém,
destruiu a cidade, matou muitos e pôs abaixo o templo. A profecia de Jesus
cumpriu-se literalmente. Desta data em diante, os judeus começam sua diáspora
pelo mundo, só retornando a Jerusalém em 1948, por decisão da Organização das
Nações Unidas. Nada do que o homem cria, dura para sempre!
“Então lhe perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerão estas
coisas? E que sinal haverá quando estiverem para se cumprir?’” (v. 7). A
pergunta é pelo tempo da destruição do templo e que sinal ocorreria antes desta
destruição. Jesus vai na contramão das expectativas judaicas da época. Os
judeus esperavam que, com a vinda do Messias, eles se tornariam a mais poderosa
nação do planeta. Agora vem Jesus e diz que tudo será ao contrário. Jesus nunca
teve medo de dizer a verdade.
“Ele respondeu: ‘Cuidado! Não vos deixeis enganar; porque
muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’ e ‘Chegou o tempo’. Não os sigais’”
(v. 8). Jesus chama seus discípulos a andar de olhos bem abertos para os
acontecimentos do mundo a sua volta e os da história. O objetivo é não serem
enganados, nem pelas pessoas e nem pelos acontecimentos visíveis. Todo cristão
é chamado por Jesus a um estado constante de vigilância histórica.
Jesus diz que
aparecerão pessoas que podem enganar os seus discípulos. No texto grego
original há uma nuance que faz diferença no texto. Na tradução em português lemos:
“muitos virão em meu nome”. No grego é: “muitos virão sobre meu nome”. Estas
pessoas não vêm em nome do Senhor, não! Elas tomam posse do nome do Senhor como
se fosse delas: “sobre meu nome”. Jesus não está falando de quem sofre de
transtorno de personalidade tal como o senhor Inri Cristi. Ele fala de pessoas
que são líderes na igreja, mas vão fazer as pessoas obedecerem a eles e não a
Cristo. Eles dirão às pessoas: “para vocês, eu sou o Cristo, eu estou no lugar
de Cristo e por isso vocês devem me obedecer completamente”. Estas pessoas se
tornarão donas da vida dos outros. As pessoas que os seguem farão tudo o que
eles disserem, mas não conhecerão nada do que Cristo disse na sua palavra. A palavra
de Cristo é que este tipo de atitude ocorrerá enquanto houver história. A ordem
de Jesus é que não sejamos levados, enredados pela loucura de seguir homens que
se apropriaram indevidamente do nome de Cristo. Se você conhece algum líder
cristão assim, fuja dele! Nunca siga cegamente a homens. Ande de olhos abertos!
Começamos aqui o
sermão escatológico de Jesus e vimos primeiramente que, em qualquer época do
mundo, pessoas vão querer arrebatar os corações dos discípulos de Jesus com
mentiras e falsidades usando do nome dele. Siga apenas Jesus e sua Palavra (a
Bíblia). A responsabilidade em discernir o falso do verdadeiro líder cristão é
do próprio discípulo. Você é responsável. Julgue sua liderança. Se ela for
aprovada, siga-a. Se ela for reprovada, vá embora dali em nome de Jesus.
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