O SERMÃO
ESCATOLÓGICO DE JESUS (4ª Parte)
A JUSTA VINGANÇA
DE DEUS CONTRA A REBELDE JERUSALÉM
No texto anterior
de Lucas 21.12-19, Jesus mostrou que, durante toda a história, seus discípulos
seriam perseguidos. Agora em Lucas 21.20-24,
ele vai falar o que acontecerá com seu povo nacional, Israel, ao profetizar
sobre a capital Jerusalém. Na Bíblia, Deus nos trata como indivíduos e também
como comunidade. Ao lidar com a comunidade, o que Deus faz afeta todos os
indivíduos, quer ou não tenham participado dos erros ou acertos do grupo. No
Antigo Testamento, Israel foi rebelde contra Deus por séculos e, no ano de 586
a.C., Deus enviou o poderoso exército babilônico para destruir e desterrar
Israel (acerca disto, leia 2º Crônicas 36). Quem estava vivendo este período,
quer tenha ou não participado dos pecados de Israel, ou foi morto ou foi levado
cativo (exemplo disto é Daniel e seus três amigos levados cativos ainda
adolescentes e que eram fiéis servos de Deus – Daniel 1). Deus mesmo traz
Israel de volta a Jerusalém. Passados cerca de 600 anos, novamente é hora de
Deus realizar sua justa retribuição contra a cidade que se mantém rebelde
contra ele.
Lucas 21 é o
sermão escatológico de Jesus. Ele já havia dito que está tratando de dois
grandes eventos: a destruição do templo de Jerusalém e o fim dos tempos, quando
ele voltará em glória. Disse que, durante a história, seus discípulos não
deviam ser dominados por homens, mas colocar todos à prova. Disse também que,
durante todo o período da história, as catástrofes causadas pela natureza e/ou
pelo homem, sempre matariam muitas pessoas, mas estes eventos não caracterizam
o fim. Jesus afirmou que, durante toda a história, seus discípulos seriam
perseguidos.
Aqui, Jesus vai
tratar especificamente da queda de Jerusalém, explicando suas palavras no v. 5
quando, ao falar acerca do templo, disse que chegaria o tempo em que não
ficaria pedra sobre pedra: “Quando virdes Jerusalém
cercada de exércitos, sabei então que chegou a sua desolação. Então, os que
estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade
saiam; e os que estiverem no campo, não entrem nela” (v. 20,21). Jesus
prepara seus ouvintes judeus para um momento crucial da história deles:
Jerusalém destruída completamente pelos exércitos romanos. Jesus está falando
no ano 30 da nossa era e este evento aconteceu no ano 70, quando o general Tito
(que depois seria coroado imperador) cercou Jerusalém e depois a tomou causando
grande mortandade de pessoas e destruindo tudo, inclusive incendiando o templo
e colocando-o abaixo, deixando de pé apenas uma parte da parede lateral dos
muros que hoje é conhecida como “muro das lamentações”. Jesus avisa que, quando
os exércitos inimigos começassem a montar acampamento em volta, era a hora de
fugir a todo custo de Jerusalém para salvar a própria vida e da família. A orientação
de Jesus era que, quando tudo estiver desabando, salve sua vida! Naquela época,
milhares de judeus cristãos fugiram para a cidade de Pela (130 Km de Jerusalém)
por causa desta profecia de Jesus. Há duas lições aqui para nós. A primeira
lição é que os judeus olhavam seu imponente templo e pensavam que ele seria
eterno. Os homens colocam muita confiança em suas próprias obras como foi o
caso da torre de Babel em Gênesis 11. Mas nada é seguro, a não ser o Senhor
Deus. O templo de Jerusalém caiu. Qual norte-americano acreditava que um dia as
sólidas torres gêmeas estariam no chão pela ação terrorista que utilizou apenas
dois aviões? Quem previu que o vigiado Muro de Berlim viria abaixo em 1989,
desmantelando um dos maiores impérios mundiais que foi a União Soviética? Quem,
há quarenta anos atrás, diria que a superpotência Estados Unidos iria perder
seu posto para um país miserável na época chamado China? Só Deus é fortaleza!
A outra grande
lição aqui é que, com a vinda de Jesus ao mundo, a centralidade da adoração
deixa de ser geográfica (Jerusalém, o templo) e passa a ser pessoal: ela se
concentra em uma pessoa chamada Jesus Cristo. Foi isto que Jesus disse à mulher
samaritana: “Mulher, crê em mim, a hora vem em que
nem neste monte e nem em Jerusalém adorareis ao Pai [...] Mas virá a hora e de
fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai no Espírito e
em verdade” (João 4.21,23). Nós, cristãos, não precisamos nem de lugar e
nem de ritos para adorar a Deus. Nós adoramos ao Pai em Jesus Cristo. Por este
motivo, nós cristãos, não temos nada a ver com a Jerusalém terrena, fincada na
Palestina, e com o Israel nacional. Nossa única obrigação para com eles é
pregar o evangelho salvador de Jesus, como devemos fazer igualmente a todas as
nações. Nossa verdadeira Jerusalém é o céu, onde Deus habita. Paulo diz em
Gálatas 4.26: “Agar representa o monte Sinai na
Arábia e corresponde à Jerusalém atual, pois é escrava com seus filhos. Mas a
Jerusalém do alto é livre; e esta é nossa mãe”. Hebreus 12.22 diz acerca
dos cristãos: “Mas tendes chegado ao monte Sião, à
cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, à jubilosa reunião dos milhares de
milhares de anjos”. O livro do Apocalipse 3.12 fala: “Farei do vencedor uma coluna no templo do meu Deus, de
onde jamais sairá. Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu
Deus, a nova Jerusalém que desce do céu da parte do meu Deus”. A
Jerusalém terrena perecerá com este mundo perdido; a Jerusalém do alto é nossa
cidade, que é o céu, na qual habitaremos eternamente com a Trindade: o Pai, o
Filho e o Espírito.
Jesus então explica
porque esta destruição acontecerá: “Porque estes dias serão
de vingança, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. Ai das que
estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Pois haverá grande
angústia sobre a terra e ira contra este povo” (v. 22,23). A destruição
de Jerusalém e sua tragédia humana é a justa vingança de Deus em ação, segundo
Jesus, contra esta terra e este povo. É a ira de Deus contra um povo rebelde e
pecador por séculos seguidos e que, neste último tempo, rejeitou a vinda do
próprio Deus em Jesus Cristo. No julgamento de Jesus, quando Israel, através de
sua liderança religiosa, pediu a crucificação dele, Pilatos lavou as mãos, mas
mandou crucificar Jesus e veja o que aconteceu: “E
todo o povo respondeu: ‘Caia sobre nossas cabeças o seu sangue, e sobre nossos
filhos’” (Mateus 27.25). O que eles pediram, aconteceu. Por que Deus se
vingou de modo tão violento? Primeiro, porque era justo que Deus desse a paga
do pecado do povo que ele suportou por tanto tempo. Deus julga os povos e lhes
dá a paga pelos seus erros. Em segundo lugar, Deus sempre age de acordo com a
cultura da época e do povo julgado. Naquela época, as guerras terminavam com
muita morte e escravidão e isto aconteceu ali. Em terceiro lugar, cabe ao
exército que vence, não ir além do tolerável numa guerra. É normal que soldados
morram numa guerra. Não é normal que o exército vencedor mate os civis que não
participaram diretamente da guerra. Neste caso, o exército romano fez uma
matança generalizada. Deus julga todos os povos e lhes dá castigo e
prosperidade. As profecias do Antigo Testamento já indicavam que Israel seria
castigado no Dia do Senhor. Lembre-se: Israel não foi castigado à toa. Seus
pecados e o afastamento de Deus levaram-no a esta triste situação. Quando da
destruição promovida pela Babilônia, o sacerdote Esdras escreveu assim: “Desde os dias de nossos pais, a nossa culpa tem sido
grande, e, por causa de nossos pecados, nós, os nossos reis e os nossos
sacerdotes fomos entregues nas mãos dos reis estrangeiros, à espada, ao
cativeiro, à pilhagem e à vergonha, como hoje se vê” (Esdras 9.7). Toda
esta interpretação histórica da ação de Deus só pode ser entendida pela fé.
Isto porque o mesmo acontecimento, do ponto de vista estritamente humano, se
deu porque os judeus se organizaram e fizeram levantes contra o Império Romano
que revidou com a destruição da cidade e o exílio de Israel de sua terra. Jesus
levanta um grito de dor pelas pessoas que não teriam como se defender naquele
momento tão difícil, como é o caso das grávidas e das que estavam amamentando.
Quando um povo erra, toda a sociedade paga.
“Eles cairão ao fio da espada e serão levados cativos para
todas as nações; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos
destes se completem” (v. 24). A Revista Superinteressante (edição 04/07/2018)
diz que no cerco a Jerusalém, os romanos levaram 70 mil soldados e, quando
conquistaram a cidade, mataram mais de 100 mil pessoas e levaram o restante
como escravos. A partir daí o povo judeu foi disperso pelo mundo. O que Jesus
afirmou 40 anos antes, aconteceu exatamente como ele disse. Jesus termina dizendo
que Jerusalém seria pisada (dominada) pelos gentios até que os tempos deles se
completassem. Há duas interpretações para isto. A primeira entende que Jesus sinalizou
que os judeus retornariam a Jerusalém. Historicamente, isto ocorreu em 1948,
quando a Organização das Nações Unidas autorizou os judeus a voltar à Palestina.
Lá, Israel reconquista Jerusalém. A segunda interpretação diz que, com a queda
de Jerusalém, o evangelho é pregado e aceito pelos gentios.
Que lições tiramos
deste texto? 1) O centro de nossa fé não é um lugar, rito ou religião, é Jesus
Cristo. 2) Pela fé, cremos que Deus julga os povos: eles sobem e caem conforme
seu desígnio. A queda sempre está associada com a degradação moral e espiritual
da sociedade. É pela fé que cremos assim, porque humanamente está tudo
explicado por outras razões. 3) Individualmente, sempre devemos agir com o
objetivo de melhorar a sociedade na qual vivemos. Se chegar o momento do
castigo de Deus, faremos parte deste sofrimento coletivo.
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