O PR. ED RENÉ
KIVITZ ESTÁ CERTÍSSIMO:
O EVANGELHO DO
SENHOR JESUS CRISTO NOS TRANSFORMA EM CARTAS VIVAS PARA UM NOVO MUNDO!
Pr Whitson Ribeiro da Rocha
A
nova polêmica no mundo evangélico diz respeito a uma mensagem que o Pr. Ed René
Kivitz pregou no domingo 25/10/2020 em sua igreja acerca da carta de Paulo a
Filemom. As redes sociais fizeram o recorte dos últimos dez minutos de uma
pregação de cinquenta minutos e elegeram Ed como o herege nº 1 (neste sentido,
convido você a ouvir a pregação inteira que tem o título “Cartas vivas contra
letras mortas” no Youtube). Devido à repercussão, ouvi a pregação toda e
resolvi escrever este artigo que servirá como orientação para alguns e
contraponto à visão majoritária para outros. Primeiramente, faço um resumo e
analiso a mensagem do Pr Ed. Depois faço minhas considerações sobre a atual
celeuma. Venha comigo.
A
carta de Paulo a Filemom trata da questão da escravidão, que era comum naquela época.
Um escravo fugitivo, Onésimo, vai parar na mesma prisão em que Paulo está.
Paulo o evangeliza e ele se torna cristão. Sabendo que o senhor de Onésimo é um
outro filho na fé chamado Filemom, discípulo dele, Paulo escreve a carta
devolvendo Onésimo, mas pedindo a Filemom que o receba agora, não mais como
escravo, mas como irmão na fé. Ao escrever esta carta, o Pr. Ed diz que Paulo
faz duas coisas. A primeira coisa é colocar uma bomba de tempo no colo do
Império Romano porque esta carta irá ressignificar as relações de escravidão no
Império e no mundo, porque ensina que os escravos devem ser tratados como
irmãos e irmãs. A segunda coisa é que ao propor esta solução a Filemom, Paulo
corre o risco de estar legitimando ou reafirmando a escravidão, ou, no mínimo,
não a confrontando.
Neste
ponto, Pr. Ed começa a falar acerca de um dos motivos que lhe renderam
acusações nas redes sociais. Ele diz que “Essa carta do apóstolo Paulo [...]
precisa receber um melhor tratamento
hermenêutico, uma melhor leitura interpretativa para que ela salte do
seu momento histórico, do seu contexto social, político, econômico e ela dê um
salto e ilumine relações mais gerais, mais universais e mais temporais e ela
seja uma carta que saia de seu limite
de insuficiência para se tornar luz a iluminar nossas relações” (grifo
meu). Mais adiante no seu discurso, ele fala do que significa esta
insuficiência do texto bíblico: “Esta carta é insuficiente para mim. O grande
desafio da igreja contemporânea é olhar a Bíblia como um livro insuficiente. Um livro que precisa ser relido,
ressignificado para que, os princípios de vida que esse livro encerra e que
essa revelação encerra, eles saltem destas páginas promovendo libertação e
justiça e relações de amor no nosso mundo”; “É nesse sentido que eu
estou dizendo que a Bíblia é um livro insuficiente. A ética bíblica reflete uma
estrutura de sociedade daquele tempo, daquele mundo, daquela época. Não dá para trazer um texto de quatro ou
dois mil anos e trazer para hoje aplicando literalmente”; “Porque se eu
não atualizo a bíblia e se eu a leio
literalmente e digo ‘está suficiente a leitura literal da escritura’, eu
legitimo escravidão, machismo” (todos os grifos são meus). Veja bem, leitor, em
nenhum momento o Pr. Ed está atacando a Bíblia ou dizendo que ela não é
inspirada. Ele está atacando a interpretação literal da Bíblia. Este tipo de
interpretação não contextualiza o texto bíblico. E porque a interpretação
literal não serve? Ele deu um exemplo em Deuteronômio 22 onde se lê que quem
estuprar uma virgem deve pagar uma indenização para seus pais e casar-se com
ela e nunca se divorciar. Qual pastor aconselharia isto para uma jovem que foi
estuprada? Na Bíblia, há a lei do levirato. Qual pastor aconselharia hoje um
cunhado a se casar com a mulher de seu irmão falecido, “porque a Bíblia manda”?
Na Bíblia, a escravidão é normal. Qual de nós aconselharia alguém a manter um
escravo em casa? Tudo isto está na Bíblia como mandamento para ser obedecido.
Mas a revelação em Jesus Cristo e os tempos atuais inviabilizam, não a Bíblia,
mas a interpretação literal dela. O teólogo Millard Erickson, em seu livro “Introdução à Teologia Sistemática” diz: “Uma
terceira posição [...] é a dos tradutores da mensagem cristã. Essas pessoas são
basicamente conservadoras, no sentido de desejar manter o conteúdo essencial do
ensino bíblico. Ao mesmo tempo, porém, desejam reformulá-lo ou traduzi-lo em
conceitos mais modernos, para encontrar equivalentes contemporâneos para os
conceitos tomados da época bíblica” (p. 30). A Bíblia precisa ser entendida no
momento histórico em que foi escrita, mas contextualizada para nosso tempo
atual!
Se
a interpretação literal não serve, qual é a proposta do Pr Ed para a
interpretação do texto da Escritura? Ele fala acerca disto: “Nas suas linhas a
Bíblia é insuficiente, mas nas suas entrelinhas, na revelação que traz a respeito do Cristo ressurreto, a Bíblia
explode promovendo uma grande revolução e uma grande transformação no mundo,
então a gente precisa atualizar a Bíblia”. Veja esta outra fala dele: “Não é
mais admissível fazer a transposição literal da Bíblia sagrada de dois mil anos
para cá. Não é mais possível, o mundo mudou. Não é possível ler a Bíblia como
se nós não tivéssemos dois mil anos de civilização humana, dois mil anos de
Espírito Santo iluminando a igreja. Não é possível. Não é possível tratar a Bíblia
como um texto que revela verdades absolutas, porque nós não somos os seguidores
de um livro, nós somos seguidores de
Jesus Cristo e este texto é palavra de Deus que é viva, e não é um
código moral que diz como devemos nos comportar em sociedade, mas é um texto que traz a revelação de
Jesus Cristo como o Senhor de um novo mundo, de uma nova era, onde as relações
de hierarquia estão destruídas e agora nós somos iguais como irmãos e irmãs”.
Ao invés da interpretação literal da Bíblia, Pr Ed está nos propondo que usemos
os ensinos e os atos de Jesus Cristo como chave hermenêutica para fazermos a
ponte do texto bíblico escrito no seu contexto cultural e o nosso contexto hoje
decorridos 21 séculos. Para nossa ajuda como intérpretes do texto bíblico para
os dias atuais, nós temos tudo o que foi produzido na história e que molda
nosso tempo e temos a ação sobrenatural do Espírito Santo que está trabalhando
na história da Igreja durante todo este tempo com iluminação e orientação. Por que
Jesus Cristo deve ser nossa chave hermenêutica na interpretação das Escrituras?
Porque a própria Bíblia ensina assim! A revelação de Deus sempre foi
progressiva. Moisés sabia mais da revelação de Deus do que Abraão, Davi mais
que eles dois, os profetas do Antigo Testamento sabiam mais que os outros, mas
isto chegou no auge quando veio Jesus Cristo. Ele é a revelação máxima de Deus
para nós: “No passado, por meio dos profetas, Deus falou aos pais muitas vezes
e de muitas maneiras; nestes últimos dias, porém, ele nos falou pelo Filho”
(Hebreus 1.1,2). A revelação especial, através da Bíblia, envolve eventos
históricos únicos relacionados à libertação divina os quais encontram seu clímax
na encarnação, expiação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Em toda a
história da revelação de Deus a presença e obra de Jesus Cristo é o supremo
desvendamento da sua vontade. Todo o Novo Testamento é a recitação dos atos de
Deus em Cristo (I Coríntios 15.3,4; João 3.16; Romanos 5.8; Hebreus 1.1,2).
Toda a Bíblia gira em torno da vida histórica de Jesus de Nazaré (o AT Romanos
16.25,26; os evangelhos, o livro de Atos Atos 1.1, as epístolas e o Apocalipse
Apocalipse 1.1).
Mas,
no contexto atual, o que significa usar Jesus Cristo como chave hermenêutica
para discernirmos sua vontade na sociedade atual? O Pr Ed responde: “Assim o
evangelho é uma profecia contra todas as relações hierarquizadas porque em
Cristo Jesus se inaugura a era das relações igualitárias. O evangelho denuncia
todas as relações de hierarquia entre os seres humanos porque em Cristo Jesus
só existe relações igualitárias onde todos somos irmãos e irmãs” e ainda: “Na
fé crista somos iguais, irmãos e irmãs,
diferente da fraternidade de iguais do Império Romano, somos iguais porque
temos o mesmo Pai. Efésios 4.6 e 3.14 é na
filiação a Deus que somos iguais”. Jesus Cristo instituiu uma igualdade
entre seus discípulos como se pode ver nestes textos: “Jesus os chamou e disse:
‘Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes
exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem
quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o
primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser
servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos’” (Mateus
20.25-28). “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de
Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem
mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Aquele que vive esta relação
de igualdade em Cristo, vai agir assim com todas as pessoas. O Pr Ed não nega
que haja na sociedade relações de hierarquia funcionais. O que ele diz é que
nas relações humanas, na dignidade humana, o evangelho de Cristo estabelece relações
igualitárias entre todos os seres humanos, independente da fé, crença ou
situação de cada um.
Mas
o que trouxe a ira dos fundamentalistas evangélicos sobre a mensagem do Pr Ed
foi o que ele disse acerca do tratamento dado nas igrejas aos gays. Vejamos o
que ele disse: “Se queremos ser cartas para o novo mundo, se a igreja quiser
ser carta para o novo mundo, nós vamos precisar atualizar a Escritura e vamos
ter que usar, vamos ter de fazer esta atualização e ter essa coragem de
enfrentar os pecados de gênero de nossa sociedade, de enfrentar a questão da homossexualidade, da homoafetividade e dos
gays que frequentam as nossas comunidades, estão dentro das nossas comunidades
mas continuam sendo condenados ao inferno por causa de dois ou três textos
bíblicos que não foram atualizados”. O Pr Ed não está definindo qualquer
coisa em relação à homossexualidade. Ele está fazendo um convite a todos nós
para o diálogo da situação dos gays em nossas igrejas, não com uma
interpretação literal de alguns versículos bíblicos, mas com os princípios de
igualdade que Cristo nos propõe. É um chamado ao diálogo sobre o assunto.
Procurei
mostrar para você, leitor, que o Pr Ed não falou nada que esteja fora do ensino
bíblico ou da teologia cristã. E mais: ele está correto em tudo que falou para
que a Igreja de Cristo se torne relevante neste mundo. Se você o admira como
pastor, continue, pois o que ele fez foi enaltecer o nome de Cristo e nos
colocar a serviço do próximo em amor e justiça.
Mas,
por que as redes sociais estão malhando o Pr Ed e tratando-o como se fosse um
herege? Preste atenção no que vou lhe dizer. Há no Brasil, importado dos
Estados Unidos, um fundamentalismo evangélico que faz a leitura literal das
Escrituras, odeia (o verbo é este mesmo: odiar) todo mundo que pensa diferente
deles (especialmente se a pessoa for evangélica) e querem controlar a igreja
evangélica. Mostrei quem é este grupo num artigo intitulado “Flordelis: a fina
flor do fundamentalismo evangélico” que você encontra na minha página no
Facebook ou no meu blog (evangelhobendito.blogspot.com). A maioria dos
evangélicos segue os líderes deste grupo porque foram doutrinados a isto. Mas
os líderes, que são iguais aos fariseus dos tempos de Jesus, olham de cima para
baixo para as pessoas, querem sempre se aparecer e controlar milhares de
seguidores. Eles não gostam de gays, porque julgam que os gays são os grandes
pecadores da humanidade. Por causa disto, fazem este esforço para destruir a
reputação de qualquer pessoa que for contra a ideia deles e que fizer qualquer
esforço no sentido de orientar a igreja a acolher os gays. Este é o verdadeiro
motivo pelo qual eles estão detonando o Pr Ed Kivitz.
O
Pr Ed termina sua mensagem assim: “Eu estou querendo seguir a Jesus para um
novo mundo, e eu, graças a Deus, não estou brincando de velho mundo. Eu estou
querendo seguir a Jesus para um novo mundo e eu espero que você venha nesta
jornada, porque ela é um caminho sem volta para mim e eu espero em Deus que
seja um caminho sem volta para você”. Seguir a Jesus, amar e entender as Escrituras,
olhar todas as pessoas como iguais (não apenas o pessoal da minha igreja) e,
como Jesus, ajudar a criar um novo mundo com amor e justiça, também para mim é
um caminho sem volta. Vem conosco seguir a Jesus e amar o próximo?
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