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Lucas 22.24-27 O verdadeiro poder não é mandar, é amar!

 O verdadeiro poder não é mandar, é amar!

 

O sociólogo Max Weber dizia que o Estado era o único ente na sociedade que tinha o monopólio da violência com o intuito de proteger os cidadãos. O monopólio da violência era a forma do Estado exercer seu poder. Por causa disto, o Estado tem polícia para reprimir a criminalidade, um sistema judiciário que pode colocar alguém na prisão por anos, e em alguns países, condená-lo à morte e pode obrigar as pessoas a pagar impostos. O conceito de poder que vigora nas sociedades é o de mando, de coerção. Daí o ditado popular: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. É acerca deste conceito de poder na sociedade que Jesus discute em Lucas 22.24-27.

Quando Jesus, na reunião da Ceia, afirmou que um dos apóstolos iria trai-lo, começaram duas discussões entre eles. A primeira era sobre quem seria o traidor (v. 23) e a segunda está no v. 24: “Levantou-se também entre eles contenda sobre qual deles parecia ser o maior”. Observe, leitor, que eles não deram a mínima para o anúncio de Jesus de que iria ser traído. Para os apóstolos, aquela traição seria algo sem importância na escalada de Jesus ao poder político de Israel e aí, o importante, era saber quem teria o  maior poder entre eles. Alíás, esta discussão sobre quem seria o mais poderoso entre eles era recorrente. Em Lucas 9.46, lemos: “E suscitou uma discussão sobre qual deles seria o maior”. O grupo apostólico de Jesus não era tão unido quanto imaginamos. Eles amavam brigar para saber quem era o maior. Para eles, o melhor lugar era estar acima dos outros, comandar, exercer o poder. O desejo humano de ser o maior começa em Gênesis 3, quando Adão e Eva foram tentados a ter o mesmo poder de Deus e se tornar semelhante a ele.

Jesus toma posição nesta discussão deles: “Ao que Jesus lhes disse: ‘Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que sobre eles exercem autoridade são chamados benfeitores” (v. 25). Jesus observa que há uma organização política vigente na Terra: os povos têm reis. Há pessoas que comandam povos. Naquela época, a monarquia e o autoritarismo eram as formas de governo. Todo o sistema gira em torno do poder. A sociedade é verticalizada, ou seja, é um tipo de relacionamento de superioridade de um sobre os outros. Só por ser autoridade e acumular poder, uma pessoa automaticamente é chamada de benfeitor. Para se falar com o rei ou autoridade, há uma série de títulos, respeitos e etiquetas que devem ser pronunciados antes. Na mente do povo, confunde-se ter poder com “fazer o bem”. O objetivo do monarca é permanecer no poder (veja, no Brasil, a batalha pela reeleição) e ele fará o bem ao povo na medida que isto lhe interesse. Maquiavel, um dos primeiros pensadores políticos modernos, ensinava que um rei deveria fazer todas as suas “maldades” no início do seu governo e no menor tempo possível e fazer todas as “bondades” depois para passar a imagem de governante forte e bom e se manter no poder por muito tempo.

Mas vós não sereis assim: antes o maior entre vós seja como o mais novo e quem governa como quem serve” (v. 26). Jesus diz que o modelo de governança dos povos não serve para a sua igreja. Há uma outra forma de se estruturar como grupo, no qual o poder será vivenciado de uma forma radicalmente diferente. Esta igreja diferente de Jesus tem duas bases: a primeira é ser uma comunidade real: “mas vós”. A igreja da qual Jesus fala aqui não é a institucionalizada que vemos hoje, na qual as pessoas brigam ferrenhamente por poder e mando. Não! É uma igreja sem estruturas na qual as pessoas se veem e podem dizer: “somos um grupo, uma comunidade e todos somos ligados uns aos outros por Jesus”. O que une todos é o discipulado do Cristo. A segunda base desta igreja é que todos que fazem parte dela são os que vão lutar para servir e fazer o bem aos demais. Quando Jesus diz que o maior é como o mais novo, ele está se referindo ao fato de que, na sua cultura, os mais velhos eram muito respeitados e mandavam, ao passo que os mais jovens obedeciam. Ser o mais novo é estar à disposição dos demais para ajudar. A luta não é por ser o primeiro, é por ser o último! Não é por ser cabeça, é por ser cauda! Não é por mandar, é por ser garçom dos demais! O que está servindo os outros é o verdadeiro líder e o maior na igreja. No entanto, ele faz isto por amor aos outros e não por poder sobre os outros.

Para nos guiar nesta nova forma de convivência, Jesus nos dá seu exemplo pessoal. No v. 27, ele diz: “Pois qual é o maior? Quem está à mesa ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem serve”. Neste mundo, o maior é quem é servido e o menor é quem serve. Jesus, o Senhor absoluto de todas as coisas, decidiu ser o servo de todos: “Eu não vim para ser servido, mas para servir” (Mateus 20.28). Até hoje, ele continua servindo seu povo. A cruz foi a marca principal deste espírito de servo que ele teve. Sua morte por amor lhe deu a vitória sobre todos os principados e potestades e ele passa a ter o nome sobre todo o nome. É de uma vida de serviço e doação que ele retira sua glória de Senhor.

A proposta de Jesus não é o poder como princípio principal de relacionamento num grupo. Mas é fazer o bem como poder de servir, de voluntariamente ser subordinado. Conscientemente, o maior se coloca como suporte para que a vida dos demais melhore. É uma outra estrutura de vida que se coloca no lugar da atual na sociedade, que é a briga pelo poder. Não é amor versus poder, mas amor igual a poder. O mais poderoso é o que ama sempre o outro. Disso vem sua glória e sua juventude eterna.

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