O verdadeiro poder não é mandar, é amar!
O sociólogo Max
Weber dizia que o Estado era o único ente na sociedade que tinha o monopólio da
violência com o intuito de proteger os cidadãos. O monopólio da violência era a
forma do Estado exercer seu poder. Por causa disto, o Estado tem polícia para
reprimir a criminalidade, um sistema judiciário que pode colocar alguém na
prisão por anos, e em alguns países, condená-lo à morte e pode obrigar as
pessoas a pagar impostos. O conceito de poder que vigora nas sociedades é o de
mando, de coerção. Daí o ditado popular: “manda quem pode, obedece quem tem
juízo”. É acerca deste conceito de poder na sociedade que Jesus discute em Lucas 22.24-27.
Quando Jesus, na
reunião da Ceia, afirmou que um dos apóstolos iria trai-lo, começaram duas
discussões entre eles. A primeira era sobre quem seria o traidor (v. 23) e a
segunda está no v. 24: “Levantou-se também entre eles
contenda sobre qual deles parecia ser o maior”. Observe, leitor, que
eles não deram a mínima para o anúncio de Jesus de que iria ser traído. Para os
apóstolos, aquela traição seria algo sem importância na escalada de Jesus ao
poder político de Israel e aí, o importante, era saber quem teria o maior poder entre eles. Alíás, esta discussão
sobre quem seria o mais poderoso entre eles era recorrente. Em Lucas 9.46,
lemos: “E
suscitou uma discussão sobre qual deles seria o maior”. O grupo
apostólico de Jesus não era tão unido quanto imaginamos. Eles amavam brigar
para saber quem era o maior. Para eles, o melhor lugar era estar acima dos
outros, comandar, exercer o poder. O desejo humano de ser o maior começa em
Gênesis 3, quando Adão e Eva foram tentados a ter o mesmo poder de Deus e se
tornar semelhante a ele.
Jesus toma posição
nesta discussão deles: “Ao que Jesus lhes disse: ‘Os
reis dos gentios dominam sobre eles, e os que sobre eles exercem autoridade são
chamados benfeitores” (v. 25). Jesus observa que há uma organização
política vigente na Terra: os povos têm reis. Há pessoas que comandam povos.
Naquela época, a monarquia e o autoritarismo eram as formas de governo. Todo o
sistema gira em torno do poder. A sociedade é verticalizada, ou seja, é um tipo
de relacionamento de superioridade de um sobre os outros. Só por ser autoridade
e acumular poder, uma pessoa automaticamente é chamada de benfeitor. Para se
falar com o rei ou autoridade, há uma série de títulos, respeitos e etiquetas
que devem ser pronunciados antes. Na mente do povo, confunde-se ter poder com
“fazer o bem”. O objetivo do monarca é permanecer no poder (veja, no Brasil, a
batalha pela reeleição) e ele fará o bem ao povo na medida que isto lhe
interesse. Maquiavel, um dos primeiros pensadores políticos modernos, ensinava
que um rei deveria fazer todas as suas “maldades” no início do seu governo e no
menor tempo possível e fazer todas as “bondades” depois para passar a imagem de
governante forte e bom e se manter no poder por muito tempo.
“Mas vós não sereis assim: antes o maior entre vós seja como o
mais novo e quem governa como quem serve” (v. 26). Jesus diz que o
modelo de governança dos povos não serve para a sua igreja. Há uma outra forma
de se estruturar como grupo, no qual o poder será vivenciado de uma forma
radicalmente diferente. Esta igreja diferente de Jesus tem duas bases: a
primeira é ser uma comunidade real: “mas vós”. A igreja da qual Jesus fala aqui
não é a institucionalizada que vemos hoje, na qual as pessoas brigam ferrenhamente
por poder e mando. Não! É uma igreja sem estruturas na qual as pessoas se veem
e podem dizer: “somos um grupo, uma comunidade e todos somos ligados uns aos
outros por Jesus”. O que une todos é o discipulado do Cristo. A segunda base
desta igreja é que todos que fazem parte dela são os que vão lutar para servir
e fazer o bem aos demais. Quando Jesus diz que o maior é como o mais novo, ele
está se referindo ao fato de que, na sua cultura, os mais velhos eram muito
respeitados e mandavam, ao passo que os mais jovens obedeciam. Ser o mais novo
é estar à disposição dos demais para ajudar. A luta não é por ser o primeiro, é
por ser o último! Não é por ser cabeça, é por ser cauda! Não é por mandar, é por
ser garçom dos demais! O que está servindo os outros é o verdadeiro líder e o
maior na igreja. No entanto, ele faz isto por amor aos outros e não por poder
sobre os outros.
Para nos guiar
nesta nova forma de convivência, Jesus nos dá seu exemplo pessoal. No v. 27,
ele diz: “Pois qual é o maior? Quem está à mesa ou quem
serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vós como quem
serve”. Neste mundo, o maior é quem é servido e o menor é quem serve.
Jesus, o Senhor absoluto de todas as coisas, decidiu ser o servo de todos: “Eu
não vim para ser servido, mas para servir” (Mateus 20.28). Até hoje, ele
continua servindo seu povo. A cruz foi a marca principal deste espírito de
servo que ele teve. Sua morte por amor lhe deu a vitória sobre todos os
principados e potestades e ele passa a ter o nome sobre todo o nome. É de uma
vida de serviço e doação que ele retira sua glória de Senhor.
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