JESUS DÁ A OUTRA FACE
Um dos ensinos
mais incompreensíveis de Jesus é quando ele disse que quando alguém batesse em
sua face do rosto, você deveria dar a outra. Numa interpretação literal, parece
que Jesus incentiva a violência do opressor e a subserviência do oprimido.
Quando se examina melhor o texto e seu contexto, o ensino de Jesus vai no
sentido de que o cristão deve ser um ativo praticante do bem como forma de
vencer o mal. Ele não responde ao mal com o mal ou a vingança. Ele responde com
o bem. Jesus viveu este ensino no texto de Lucas
22.49-53, o qual fala de sua prisão.
Uma multidão fora
designada pelos principais sacerdotes dos judeus para prender Jesus. Combinados
com Judas Iscariotes, eles se dirigem até Jesus de noite. Lá estão os apóstolos.
“Quando os que estavam com ele viram o que ia suceder,
disseram: ‘Senhor, feri-los-emos à espada?’” (v. 49). Os apóstolos viram
a chegada da multidão armada. Com grande surpresa, viram Judas beijar Jesus.
Perceberam que se tratava de uma prisão, só não sabiam se era de Jesus ou de
todos eles. Diferentemente de Judas, eles se colocaram em defesa de seu mestre.
Eles estavam em número menor, tinham tão somente duas espadas que tinham pego
na casa onde celebraram a Ceia (v. 37-38) e eram amadores no manuseio delas. Em
desvantagem no número de pessoas e armas, eles perguntam a Jesus se devem
atacar a multidão. Eles pensam com a lógica bélica, da luta, do confronto.
Naquela tensão de
confronto entre os dois grupos, imediatamente ocorre uma insensatez que poderia
gerar um massacre: “Então um deles feriu o servo do
sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha direita” (v. 50). Um deles não teve
nem mesmo a paciência de esperar a resposta de Jesus. Saca de sua espada e dá
na cabeça de alguém do grupo inimigo. Este alguém era o principal escravo do sumo
sacerdote, aquele que administrava sua casa. O apóstolo usa a espada para
matar, mas por inabilidade, a espada corta a orelha direita. Naquele confronto
que facilmente poderia se tornar um massacre, quem inicia a briga é o grupo de
Jesus. Uma das mais perturbadoras situações do mundo atual é que vários países
têm bombas nucleares que facilmente poderiam matar cidades inteiras. No século
XX, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram varridas do mapa com
cerca de 110 mil mortos na hora, fora os demais que morreram posteriormente aos
seus efeitos. Hoje há milhares de bombas nucleares que são muito mais
destruidoras do que aquelas lançadas nas cidades japonesas. Basta que um líder
insano, com medo de perder o poder, acione uma só bomba nuclear para que a
destruição do planeta ocorra. E líderes insanos não faltam neste mundo, tal
como aconteceu com aquele apóstolo de Jesus que saca sua arma.
Quando a situação
corria para um confronto sangrento, Jesus dá a outra face aos que vieram
prendê-lo. E ele vai dar a outra face por duas atitudes diferentes. A primeira
está no v. 51: “Mas Jesus disse: ‘Deixai-os; basta’. E
tocando-lhe a orelha, o curou”. Jesus ordena aos seus apóstolos que eles
permitam tudo o que a multidão quiser fazer. O ataque com a espada daquele
apóstolo específico deveria parar imediatamente. Com esta atitude, Jesus
evitava um banho de sangue que poderia ocorrer e, ao mesmo tempo, entregava-se
pacificamente aos que vieram prendê-lo. Em Mateus 5.39, Jesus ensinou o
seguinte: “Eu, porém, vos digo que não resistais ao
homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a
outra”. Na sua prisão, Jesus cumpre este ensinamento. Ele não permite o
confronto que seria a seu favor e, ao mesmo tempo, usa seu poder para curar a
orelha decepada daquele que era o administrador do sumo sacerdote e estava ali
justamente para prendê-lo. A multidão lhe faz o mal, Jesus responde com o bem.
Este gesto de Jesus é tão chocante e tão fora do comum que marcou a vida de
todos que ali estiveram como um grande susto do bem. Todos ficaram paralisados
e pasmados, vendo Jesus efetuar a cura. Ao curar, Jesus vê face a face aquele
servo, olho no olho. Você pode imaginar o olhar que os dois trocaram? A cena é
tão marcante que o evangelho de João chega a dar o nome do servo (João 18.10).
Estes evangelhos foram escritos 30-50 depois destes eventos. Para o evangelista
João dar o nome dele, é porque ele ficou conhecido na comunidade cristã. Teria
ele se convertido posteriormente a partir deste acontecimento? Teria sido uma
testemunha do amor de Jesus? Não sabemos, mas, ao dar a outra face, Jesus
mostra que, na maldade geral, o amor triunfa através de atitudes simples de
fazer o bem. E você, está disposto a fazer o bem de forma amorosa a quem lhe
pratica o mal?
A segunda maneira
de Jesus dar a outra face parece ser oposta à primeira, mas não é. “Então disse Jesus aos principais sacerdotes, oficiais do
templo e anciãos que tinham ido contra ele: ‘Saístes como a um ladrão com
espadas e paus? Todos os dias estava eu convosco no templo e não estendestes as
mãos contra mim. Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas’” (v.
52-53). Se na primeira fala, Jesus dá a outra face retribuindo ao mal com o
bem, nesta segunda fala, ele reivindica a justiça para seu caso! A justiça lhe
será negada, mas nem por isto ele deixa de exigir que ela se cumpra. Na
multidão, havia o pessoal braçal que prenderia Jesus e estaria na linha de
frente caso acontecesse alguma briga. Também estavam ali, autoridades que
supervisionavam toda a operação de prisão. Jesus fala com este segundo grupo:
principais sacerdotes, oficiais do templo e anciãos, ou seja, com quem mandava.
Diz a esta gente importante que eles o estão tratando como se ele fosse um
ladrão, logo ele que nunca pegou nada de ninguém, pelo contrário só doou de si
para os outros; vão a ele com armas de guerra, logo ele que era o mais pacífico
dos homens. Diz a eles que estava todos os dias no templo de Jerusalém, à vista
de todo mundo, e não quiseram prendê-lo ali (Jesus sabia que não o prenderam
quando estava no templo porque tinham medo do povo que gostava dele). Mas,
naquela noite, Jesus estava apenas com onze homens em um lugar ermo. Jesus
então diz que esta é a hora e a autoridade das trevas. O fato de Jesus ser
preso era a demonstração clara de que o mal estava vencendo e a injustiça
começava a ser feita. Um homem inocente começava um calvário de prisão, tortura
e morte; toda esta armação foi perpetrada por autoridades que se consideravam
santas e puras. Quando qualquer injustiça acontece, é a hora e autoridade das
trevas!
Em sua prisão,
Jesus ofereceu a outra face. Primeiro, ele retribuiu o mal que lhe faziam com o
bem, ao curar o homem atacado e evitar derramamento de sangue. Em segundo
lugar, ele reivindica a prática da justiça, mesmo sabendo que isto não
acontecerá no seu caso. Parece-me que os cristãos hoje em dia não seguem
nenhuma das atitudes do seu mestre. Quando atacados com o mal, dão o troco com
mais maldade ainda. E se a autoridade que pratica a injustiça é do seu próprio
grupo ou “queridinho” deles, fazem vistas grossas, concordam com ele e ainda
espalham mentiras. Quem é de Jesus, ouve sua palavra, obedece seus mandamentos
e segue seu exemplo. O ensino expresso pela sua vida é: retribua com o bem a
quem lhe faz o mal e lute para que a justiça prevaleça em todos os casos.
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